Os seres humanos são muito bons a adaptar-se a novas dinâmicas, graças há sua habilidade única de colocar a imaginação em prática. Desenvolvem novas soluções para novos problemas, constantemente há milhões de anos.
Interessante também é o reverso desta moeda. A nossa excelente capacidade para criar problemas. Li hoje um artigo da revista The Wired que me despertou para esse grande pormenor da nossa existência. Tanto quanto tenho noção, o tema do efeito sono, da qualidade deste, na nossa saúde e consequentemente nas nossas ações ao longo do dia, é um tema júnior no ambiente da comunicação social generalista.
Há dois ou três pares de anos que começámos a ouvir falar nos ciclos de sono, nas pessoas noctívagas, na redução da esperança média de vida quando não respeitamos os horários de sono que os cientistas aconselham. Lentamente esta preocupação acabou por penetrar nas nossas mentes e de certeza que quase toda a gente, em algum momento, já deu dois dedos de conversa sobre o sono - “se não dormir 8 horas não aguento o dia”, “está provado que dormir pouco nos põe doentes”, “dizem que na minha idade devia dormir X horas, ando a dormir Y, por isso vê lá…”.
Voltando ao artigo da revista de teconologia, este indicava que nos começámos a preocupar com a nossa qualidade de sono, e bem. No entanto, influenciados pela narrativa de que há quantidades de sono tabeladas para cada idade da nossa vida, acabámos a preocupar-nos demais et voilá: temos um novo problema.
Agora há um número significativo de pessoas que passaram a ter insónias porque se tornaram ansiosas com o objetivo de atingir uma qualidade de sono “certificada cientificamente”. Senão conseguirem ir para a cama ou adormecer no momento que planearam, estas pessoas trocam a tentativa de relaxar para dormir com os pensamentos sobre as consequências de se terem deitado vinte minutos mais tarde do que queriam.
Ou seja, há gente que não consegue dormir por estar demasiado preocupada por estar acordada. Se isto não é o exemplo perfeito da nossa capacidade de criar algo a partir do nada, nem que seja um problema, então não sei.