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The Pólis

O PSD fez o que era expectável. Durante esta semana ficámos a saber que a Direção do PSD chumbou a coligação pré-eleitoral com o CDS. Pelo que veicula na comunicação social, Rui Rio não se pronunciou e deixou a sua Comissão Política Nacional decicidir sem influência do presidente.


Secalhar alguém lê esta informação e pensa que é um gesto muito democrático de Rui Rio. Aliás até pode ter sido esse o objetivo de Rui Rio ao passar esta informação para a comunicação social: enganar alguém mais distraído.


No entanto, lamento desiludir, mas Rui Rio não se pronunciou porque já sabia que decisão seria tomada pela CPN e possivelmente por toda ela, tendo os 3 votos a favor sido feitos para a notícia não fosse a unanimidade contra o CDS - não esquecer que podem ainda precisar do partido de Francisco Rodrigues dos Santos.

Percebo o argumento de alguns, do PSD e do CDS, de que os seus partido precisam de ir sozinhos para mostrarem o que valem. Porém, o que espero de líderes políticos do espectro não socialista, após 6 anos de governação ininterrupta do Partido Socialista, e com tudo a apontar para mais 4, é pragmatismo.
E este pragmatismo passa por ter a humildade e a inteligência de ver que há uma marca política de centro-direita que funciona em Portugal. Essa marca chama-se PSD/CDS, venceu as duas últimas eleições legislativas e conseguiu muito bons resultados nestas últimas autárquicas, até mesmo no alentejo.

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O pragmatismo de reerguer esta marca, dota-la das ferramentas e dos recursos humanos necessários para relembrar aos eleitores que esta é uma marca de confiança, de boa governação e de boa aceitação internacional. Que é a marca não socialista por excelência, em que milhares de portugueses confiaram localmente, e que é sempre chamada para resolver os problemas gravíssimos que são deixados nas secretárias dos ministérios quando se deixam por lá muito tempo os socialistas e as suas famílias.

Este modo de ver a política, como um serviço e sobretudo agora como uma missão de salvação do país (digo mesmo salvaçao, pois basta lermos todos os indicadores de crescimento para ver que Portugal é o país que mais afunda na UE, e em que os cidadãos vivem cada vez pior) de uma rota de desastre irrecuperável seria o que se exige num momento destes. Este seria o momento para o fazer. Não foi o entendimento do PSD. Porquê?

Porque como bom partido de caciques e de jogo político pelo poder, o PSD não consegue limpar as remelas do maquiavelismo. Não seria grave se estivessem a fazê-lo contra a Geringonça, mas optam por fazê-lo contra Portugal. Tal como o escorpião, que não consegue recusar a sua natureza, também o PSD não consegue evitar de ser traiçoeiro e, fazendo uso das sondagens que Rui Rio tanto critica, acha que é o momento ideal para se descartar do CDS, considerando que desse modo lhe dão a estocada final.

Este é um PSD que se demonstra pouco recomendável. Na incerteza e na avaliação de cenários possíveis, Rui Rio e os seus correligionários preferiram a probabilidade de matar o CDS, que a probabilidade de com o CDS, afastar António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa do poder.

Todos iremos sofrer as consequências desta decisão. Até Rui Rio.

A palavra "eurodeputado" sempre me trouxe uma carga diferente, como se fosse um super deputado.
Ainda que os nossos eurodeputados de "super", à primeira vista possam ter apenas o vencimento, se comparados com grande parte dos portugueses. Ou talvez o super até se adequasse quando relativo ao desconhecimento que a maioria de nós tem sobre o que fazem em Bruxelas - atenção aos mais precipitados, pois dizer que há desconhecimento sobre o que fazem é (muito) diferente de dizer que não fazem nada.

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No último par de semanas, anunciaram intenção de candidatura às presidências do CDS e PSD, respetivamente e por ordem cronológica, Nuno Melo e Paulo Rangel. Os veteranos eurodeputados, querem voltar de vez e apontam para a liderança das suas casas.

Nuno Melo já putativo candidato à vários anos, assume finalmente o "desígnio" que muitos antecipavam. Paulo Rangel, que já tinha tentado vencer a presidência do PSD, retorna dez anos depois, com mais capital político e muito mais tempo de presença na comunicação social.

São ambos personagens políticas mais próximas dos duas últimas figuras que colocaram PSD e CDS na governação do país,Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Ainda que essa aproximação seja muito mais nítida em Nuno Melo que em Paulo Rangel, se tivermos em conta que este último perdeu a sua primeira incursão à liderança do partido precisamente para Pedro Passos Coelho. No entanto, tal como Melo reúne apoios de "portistas" , Rangel agrega os "passistas".

Se isto só por si conta como vantagem ou desvantagem para estes candidatos, é difícil de saber, mas que pode conquistar muitos saudosos da PáF, pode.
No CDS, caso a vitória sorria a Nuno Melo, nunca chegaremos a saber que valor tem Francisco Rodrigues dos Santos em Legislativas, e se seria capaz de obter um resultado melhor que Assunção Cristas (mesmo que em coligação, como parece ser a intenção) sendo que essa é uma das principais críticas dos seus apoiantes à antecessora de "Chicão". 
No PSD, em caso de vitória do challenger Paulo Rangel, este terá daí a pouco tempo, o momento para demonstrar se valeu ou não a pena a aposta dos seus correligonários na mudança de presidência, tendo que fazer melhor que Rui Rio nas eleições que acontecem dentro de pouco mais de um ano.

Caso tudo fique na mesma, e a dupla Francisco Rodrigues dos Santos/Rui Rio sobreviva às eleições internas dos dois históricos partidos, ficarão ambos com mais uma "medalha" de combate interno (a contagem ficará em duas e meia para "Chicão, três para Rio), com mais dois potenciais predadores das suas presidências postos de lado, pelo menos temporariamente. Teremos, nesse caso, em 2023, a estreia de Rodrigues dos Santos em legislativas enquanto presidente do partido e aquela que será certamente a última eleição de Rui Rio à frente do PSD, caso perca novamente as eleições - "fool me once, shame on you, fool me twice, shame on me.”

Seja como for, os próximos dois meses são decisivos para os dois partidos, com os seus militantes a serem chamados a pronunciar-se sobre quem querem que enfrente António Costa em 2023. Serão também, certamente, momentos interessantíssimos de acompanhar para todos os "viciados" em política.

O Partido Socialista (PS) apresentou no seu último congresso, através do secretário-geral e primeiro-ministro António Costa, propostas de apoio à natalidade e à juventude: nomeadamente o aumento das creches e incremento de benefícios no IRS Jovem.
Acontece que estas mesmas propostas já tinham sido apresentadas pelos seus rivais directos, o PSD, de Rui Rio, e uma delas o PS até votou contra (IRS Jovem).
Os socialistas que têm trabalhado na retórica de que o PSD é um partido sem ideias, sem capacidade para se apresentar como alternativa, arrisca e joga novamente com a memória curta dos portugueses. O PSD não tinha ideias, mas as poucas que tinha ao que parece era tão más que o PS não hesitou em anexá-las ao seu programa.
A surfar nas sondagens, a prometer mundos e fundos, António Costa pega num velho truque político para continuar a cilindrar o PSD - ficar-lhes com as proposta e fazer ouvidos de mercador aos gritos de "eu disse primeiro".

Daqui em diante, o PS defenderá que a proposta é sua e, quanto muito, dirá "se concordam e até dizem que já apresentaram, votem a favor" quando se der o momento de as apresentar no Parlamento.

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No CDS, acontece algo parecido. O presidente do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, reagiu aos anúncios de António Costa, dado que a natalidade é um dos temas mais ligados ao partido desde sempre. Disse que eram "migalhas" e, segundo o Público está a preparar um pacote de medidas para apresentar, afetas à natalidade. Ora também aqui, houve um repescar. "Chicão" que tem, tal como os seus apoiantes, calcado na tecla de "o tempo da Assunção arruinou o CDS",  sabe-se já que inclui neste pacote que vai ser apresentado, uma boa dose de copy/paste das propostas anteriormente apresentadas por Cristas no Parlamento e chumbadas pela esquerda.

No entanto, o caso da réplica de propostas no CDS é muito menos grave, pois o que está dentro de casa é para consumo interno.

Os últimos dias têm sido muito produtivos em criação de notícias, artigos de opinião e reportagens em torno da nova era governativa que se iniciará nos Açores.
O arquipélago terá, finalmente, a oportunidade de experienciar outro estilo de governação tendo mesmo expulsado os comunistas das lides parlamentares da região - recorde-se que até o PPM ficou à frente deles.

Numa outra perspectiva, esta siuação tem gerado jogos de bastidores muito interessantes, para quem gosta. E é sobre eles que me debruço e acerca deles que terei de dar a mão à palmatória relativamente à qualidade de assessoria que o presidente do Chega hipoteticamente terá.

Ainda a procissão ia a meio, e com procissão falo nas conversações entre CDS, PPM e PSD, e já muito se discorria acerca desta pseudo geringonça invertida, porque teria de contar com aprovações no parlamento regional, de outros partidos para que tivesse pernas para andar. Falou-se na IL, no Chega e até no PAN.

Já esbracejavam os putativos arautos da liberdade à esquerda, dizendo que se ia governar com um partido de extrema direita. Como se aquilo que se tem passado no continente à 5 anos fosse muito melhor, com um Governo apoiado por partidos que celebram Che Guevara, Fidel Castro, Mao ou que põem em hipótese que a Coreia do Norte seja uma democracia.

Não acho que sirva de justificação para nada, apontar o mal que outros fazem. Mas é impossível ficar-se calado com tamanha hipocrisia.

Após o entendimento desta nova AD 2.0 , parece que se exigiu ao PSD regional que garantisse a aprovação dos orçamentos no parlamento regional. Para isso, o PSD tentou então conversar com a IL e com o Chega. E a partir da segunda conversa, com o partido de Ventura, é que o PSD nunca mais apanhou o fio à meada.

O CH desde então tem jogado com mestria, e assim que terminou a conversa com o PSD, lançou para a comunicação social a ideia de que se tinha firmado um acordo que incluia a redução do número de deputados, a castração química e uma possível extensão do acordo às autárquicas.

Fazendo lembrar o filme "Wag the Dog", o Chega marcou a agenda e minou a credibilidade do PSD. Costuma-se dizer para não lutarmos com porcos não é...?

O PSD viu-se obrigado a desmentir essas informações, mas o dano estava feito. O primeiro a gritar ouve-se mais pois o segundo já não conta com todos os ouvintes na sala.

Depois de dezenas de reacções nas redes, mais outra dezena de artigos de opinião e manchetes, Rui Rio veio tentar remediar o irremediável: a ideia de que fez um acordo com a extrema direita estava no ar.

Após tudo isto seguiram-se, para além do desmentido, algumas defesas usando a tal questão da geringonça continental. E Rui Rio, que tem um registo patético nas redes sociais, acha boa ideia brincar com o tema.
Ontem, mais uma vez, a assessoria de André Ventura, revelando muita perspicácia, esteve atenta ao que Rui Rio fazia e conseguiu gerar mais uma nódoa no peito do PSD.

O líder dos laranjas faz um tweet infeliz, perguntando se há novidades acerca do "avanço do fascismo nos Açores" e, cerca de uma hora depois, André Ventura escreve outro tweet exatamente sobre o mesmo.

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Resultado: Ventura puxa o PSD para junto de si, demonstrando consonância de pensamento e articulação conjunta na comunicação externa. Para quem leu ambos, fica com a ideia de que combinaram ou que são muito parecidos. De uma cajadada André Ventura conota o PSD com a extrema direita, para quem vê de um lado, e conota o Chega com o centro-direita, para quem vê do lado oposto.

Em pouco dias, o partido de André Ventura, talvez por o terem subestimado, fez gato sapato da reputação do PSD e ainda se serviu da comunicação social como bem quis.

Todo este lodo teria sido evitado de uma forma muito simples: PSD, CDS e PPM não precisavam de falar com ninguém para formar governo. Quem estava com eles estava do lado da direita, quem não estava colocava-se ao lado da esquerda. Este era o argumento único que devia ter sido utilizado, sem direito a conversações.


Sebastião Bugalho escreveu há uns dias um artigo de opinião no Observador, em que a ideia principal era a de que Rui Rio estava a cumprir escrupulosamente o seu plano, traçado algures na sua mente, para chegar à cadeira do poder. Nesse artigo, alude a um outro, de Francisco Assis. É sobre essa que escrevo.

Francisco Assis é um destacado militante do PS, que beneficia de uma admiração intelectual tanto à esquerda como à direita, e que no caso destes último, o consideram como o que seria o socialista ideal para se conversar - conversar no sentido de encontrar posições conjuntas com partidos à direita.
Não sei, nem tenho capacidade para tecer considerações acerca da inteligência do Francisco Assis.

O artigo, intitulado "Uma geringonça de direita", começa por parabenizar o livro "Linhas Direitas" (que reocmendo, já agora) por ser uma antologia do pensamento conservador e liberal português contemporâneo, de qualidade. Escreve o autor que  "(...)Vale a pena ler para se superar definitivamente a representação caricatural de uma direita obtusa que alguns sectores da extrema-esquerda procuram sistematicamente promover. ". Não podia concordar mais.

O que me impressionou no artigo, o qual desconhecia a existência, e que já é datado de fevereiro deste ano, foi a tese escrita a seguir. Francisco Assis colocou uma hipótese, que se alguma vez a mim me passou pela cabeça tal cenário, sempre o considerei uma divagação sem fundamento. No entanto, a realidade parece querer fazer-me engolir tal descrédito.


O ex-eurodeputado fala-nos da hipótese de Rui Rio querer efetivamente estabelecer pontes à direita, e replicar o que o PS fez à esquerda. Isto, se a estratégia de revelar que no fundo partilha muito mais valores com a esquerda do que com a direita ( e que o autor também acredita ser verdade) falhar. Diz Assis que "se não conseguir alcançar este objectivo o país continuará a contar com uma maioria de esquerda no Parlamento." e que como tal Rui Rio, terá de optar por outra via para alcançar o Governo.

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Essa via, não podendo ser pré-eleitoral, nas palavras do autor, apenas será tida em consideração depois de terminadas as eleições e contabilizado o peso de cada um. Francisco Assis considera que, se se verificar que toda a direita conjunta, mais o PSD, formarem conabilisticamente uma maioria, Rui Rio não hesitará em propôr um Governo apoiado pelo CDS, Iniciativa Liberal e Chega, replicando a ideia pioneira de António Costa.


Se esta ideia, em fevereiro, me parecia quase conspirativa, agora já não sei que diga. Assis chega mesmo a prever que o argumento que será utilizado então, quando acusarem o PSD de dar a mão à extrem-direita populista, passará por relembrar que "António Costa não hesitou em negociar com um partido que nunca condenou o totalitarismo soviético, que continua a falar da “alegada queda do Muro de Berlim” e que não esconde alguma simpatia pelo regime norte-coreano." .

Não só foi bem previsto, como até já acontece mais cedo que o pensávamos. O PSD já piscou o olho ao Chega, e há quem veja a possibilidade com bons olhos, correndo já nas redes imagens como a que ilustra este texto, ou posts escritos que consideram exatamente o mesmo.

Impressionou-me a capacidade de previsão de Francisco Assis, mas agora assusta-me que esta venha a ser uma realidade. O pior que poderia acontecer à Direita, e ao país, era acrescentar mais um radical a molhar os dedos no poder. Se, como diz o ex-eurodeputado, já existe uma representação caricatural da Direita em Portugal, aqui a caricatura passa a misturar-se com a realidade e perdemos de vez a esperança e a oportunidade de um dia termos uma Direita construtiva e democrática, à semelhança do Reino Unido ou da Alemanha, a contrabalancear com os socialistas.

Depois de algumas pérolas do deputado Rui Rio, a verberar contra a comunicação social e, mais recentemente, a negar a existência de racismo no nosso Portugal, o seu vice-presidente no partido tangerina, não se quis ficar atrás. Parece que a ponte 25 de abril deveria manter o seu antigo nome, homenageando Salazar. Opiniões são como os chapéus, não é?

Só me intrigo sobre o porquê de André Ventura ter saído do PSD. Afinal podia ter partilhado, tranquilamente, as suas ideias com os companheiros que ia certamente encontrar quem pensasse da mesma forma, em abundância.

Ou isto ou há uma estratégia de Rui Rio - sim eu acredito que ele é capaz de montar uma estratégia - para além daquela em que se tenta confundir com o PS para que as pessoas se enganem e votem nele, de tentar trazer de volta o André.
Mostrando-lhe que na sua antiga casa, há espaço para as suas ideias, talvez achem que ele feche a tenda da sua seita de evangélicos e volte atrás como um bom filho.

"Volta, André. Também não acreditamos em racismo, nem na comunicação social e temos um fraquinho pelo Salazar. Anda, filho."

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