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The Pólis

O primeiro-ministro anunciou há uns dias a criação de um mecanismo de verificação de possíveis governantes. 
O "mecanismo", reveleram hoje, trata-se nada mais nada menos do que, o preenchimento de um questionário e a assinatura de uma decalração de compromisso de honra em como estão a responder com honestidade ao questionário. 

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Isto revela-nos algumas coisas levanta outras tantas dúvidas: 

As questões que estão presentes no questionário não eram já feitas aos candidatos a governantes? Como é que isso era possível?
Quando a Secretária de Estado da Agricultura se demitiu em 24 horas, muita gente se questionou se António Costa e a sua equipa de castings (será que existe ?) apenas confiavam na palavra das pessoas e pronto. Tendo em conta o conteúdo do questionário hoje aprovado e publicado, fica a ideia de que nem sequer questionavam os visados sobre possíveis questões legais que pudessem por em causa o seu trabalho, a sua permanência no cargo e a estabilidade necessária ao regular funcionamento do ministério em que esperam ser inseridos. 

Recordo-me que o ministro Azeredo Lopes dizia que tinha adquirido conhecimentos para o lugar de ministro da Defesa, através da visualização de filmes de guerra e policiais. Talvez o Governo deva começar a sugerir alguma séries políticas aos seus membros, é que até nas séries se costumam ver os assessores dos presidentes e dos primeiros-ministros a entrevistarem as pessoas antes de as nomearem para cargos. 

Saindo dos filmes, das séries e voltando à vida real. Parece que para entrar no Governo basta alguém nos querer lá, dizermos que sim e cá vai disto. Quase 50 anos depois do 25 de abril, ou seja, quase 50 anos de Governos democraticamente eleitos, e nunca se tinha preparado uma avaliação a candidatos a governantes? Nem sequer assinavam um qualquer compromisso de honra em como não eram uns aldrabões de primeira? 

Quantos de nós já tivemos de assinar uma declaração dessas para a mais mísera e simples das ações burocráticas? Na segurança social, nas finanças, nos notários, no IMT... E para se mandar no país não era preciso nada de nada? 

Só ao fim de quase 50 anos se lembram de que se secalhar era boa ideia, no mínimo, colocar as pessoas a responder a um questionário sobre a sua conduta? 
E ao fim de quase 50 anos, temos um primeiro-ministro a chamar a isto "mecanismo de veificação" ? Não é um mecanismo de absolutamente nada, é um formulário patético para nos atirar areia para os olhos. 
E é absolutamente vergonhoso, primeiro que só decidam fingir que vão verificar alguma coisa porque os casos já estavam a dar demasiado nas vistas, segundo que nos colem um rótulo de tontos ao anunciarem esta medida infantil. 

Os serviços de inteligência não fazem realmente uma verificação de quem são as pessoas que vão tutelar as nossas finanças? O nosso sistema de pensões? A nossa educação? 
Será que um dia temos um espião estrangeiro como ministro e ninguém dá conta? 

A falta de rigor e de seriedade com que se encara o exercício da governação em Portugal, não cessa de me surpreender. 



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Numa fase tremida do Governo, com muitos casos e demissões, em que a Oposição tenta agitar a bandeira do "normal funcionamento das instituições" ao Presidente da República, António Costa faz uma escolha demasiado estranha. 

Selecionar um dos mais indignos titulares de pasta governamental para uma promoção a ministro, é caricato e só pode ser interpretado como uma forma de demonstrar desprezo pelo que a Oposição acha ou deixa de achar mas também pelo objetivo pelo qual diziam precisar de uma maioria absoluta: estabilidade política. 

Já por algumas vezes abordei aqui este personagem político do Partido Socialista, e por isos volto a deixar aqui os links para que recordem comigo o porquê de já ter gerado indignação a nomeação de Galamba para Secretário de Estado quanto mais para ministro: 

Galambing, a arte da Soberba

O que tem João Galamba para ser tão protegido?



PS: Feliz Ano Novo!

25 de Novembro e então

Deixo-vos alguns links interessantes sobre o «polémico» dia de hoje

O 25 de novembro dá sempre que falar, com a esquerda a querer impingir-nos a ideia de que quem assinala o dia é fascista. Como se estivessemos obrigados a escolher entre o 25 de abril e o 25 de novembro, reduzindo dois momentos importantíssimos da nossa história recente à palermice da bipolaridade com que tudo se vive hoje em dia. 

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Não não temos de escolher entre uma e outra. Não devemos, não faz sentido. Complementam-se, pelo menos na ótica de quem acredita na democracia. Felizmente houve 25 de abril que nos tirou das garras da ditadura, felizmente houve 25 de novembro que cortou com os planos de nos levar para o colo de outra ditadura. 

Apesar de muita comunicação social ter ignorado o dia, aconteceram algumas coisas interessante, que partilhos nos seguintes links: 

Esta reportagem do Expresso --> Clica aqui 

O Marcelo a finalmente tomar uma posição decente sobre o dia --> Clica aqui

Moedas a fazer o que muitos presidentes de câmara não têm coragem --> Aqui

Esta Exposição que vai estar em exibição até dia 15 de Dezembro -- > Aqui

Nuno Melo a dizer o que é óbvio --> Aqui 

E já que o blogue tem origem em  Setúbal, os putos que lembraram o dia por cá --> Aqui

...e obviamente que o Alexandre Poço corre para acompanhar o aparelho. Pouco distingue a JSD da JS nos dias que correm. 

O PSD escolherá em breve o seu presidente. A escolha provavelmente recairá em Luis Montenegro, pois os grandes partidos têm esta tendência muy apreciável de falar em mérito mas ignorarem por completo o percurso profissional ou académico dos seus líderes. 

No entanto, os jovens poderiam dar um sinal diferente, assinalando também que há esperança para o sistema político português. Havendo um candidato com um currículo muitíssimo mais relevante (Jorge Moreira da Silva), e estando os jovens constantemente a queixar-se de que são a geração mais bem preparada de sempre mas que ninguém os valoriza por isso, acaba a ser estranho a opção por Montenegro. 

 

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O que tanto já vinha ameaçando aconteceu: Vladimir Putin, líder incontestável (ditador) da Rússia, iniciou a ofensiva assumida à Ucrânia. 
Ofensiva assumida, sim. Pois já tinha a Ucrânia cercada há algum tempo

Os pretextos: primeiro Putin justificou este cerco, esta ameaça com a presença de milhares de militares na fronteira, com a possibilidade da Ucrânia vir a aderir à NATO. 

Agora as coisas mudaram: depois de várias reuniões com líderes mundiais, cada vez foi ficando mais claro que a Rússia já tinha tomado a sua decisao há algum tempo independentemente da NATO. Como anunciavam,  tanto o presidente dos EUA como o primeiro-ministro do Reino Unido há dias.

A nova opção estratégica da Rússia tomada na segunda-feira, que por acaso foi mencionada no domingo por Paulo Portas na TVI, foi de reconhecer a independência de duas regiões ditas separatistas da Ucrânia. Isto para poderem receber um pedido "oficial" de ajuda destas duas regiões à Rússia, legitimando uma entrada em território ucraniano. Uma Crimeia 2.0 . 

Mas porquê agora?

É claro que os motivos deste tipo de decisões são sempre difíceis de apurar, para o comum mortal que não tem acesso a informação confidencial ainda para mais de um país tão longínquo. 
No entanto podemos sempre tentar ligar alguns pontos. 

A Rússia já não é a potência dominantes de outrora, já não se compara ao estatuto que teve a antiga URSS. Ainda que Putin continue a querer assumir esse papel, não o tem. 

A nova "URSS" é declaradamente a China, que tem de forma subreptiliana, pondo em ação um plano de infiltração em quase todos os países do planeta, seja através de dinheiro, infraestruturas, presença militar ou espionagem. 

É a China que quer substituir os EUA e não a Rússia. Então porque é que a Rússia está tão confiante neste medir de forças com a NATO? 

Talvez isto tenha alguma responsabilidade: 

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No último encontro entre Vladimir Putin e Xi Jiping, que não decorreu assim há tanto tempo, os líderes pronunciaram-se pela cooperação entre ambos os países, dizendo que a sua cooperação e aliança não tem limites e que se apresentam contra a NATO e os Estados Unidos da América. 

Por outras palavras, Putin está com as costas quentes. Resta saber se o que faz na Ucrânia o faz apenas por esse motivo ou se as costas quentes são na verdade por ter um picador por trás, que pretende lançar o caos na Europa, avaliar o poderio militar dos outros e testar o seu. 

A China já é líder mundial tanto no número de efetivos no exército como na tecnologia, e especificamente na inteligência artificial. Porém nunca teve oportunidade de se testar. O acordo de cooperação com a Rússia poderá ajudar nesse sentido. 

Esta possível guerra Ucrânia vs Rússia tem tudo para ser bastante proveitosa para os chineses. Aguardemos para perceber o que farão os líderes europeus e americano, para preservar a continuidade da paz na Europa sem deixar que a invasão da Ucrânia passe em branco.  

Pois é, nova eleições, nova maioria socialista. Nos próximos quatro anos teremos António Costa e a sua "família" a porem e disporem da vida dos portugueses.

Se ele quiser pode, por exemplo, reconduzir o excelente ministro Eduardo Cabrita na pasta da Administração Interna, que ninguém pode fazer nada. Podem reclamar, chorar, se o PS quiser o PS faz. Também é isso que significa maioria absoluta.

A questão que fica é: Ficámos surpreendidos com esta vitória do PS e esvaziamento dos partidos da esquerda? Li muita a gente a escrever que sim. Certamente não frequentam este blogue, porque quem o frequenta não ficou.

Tal como prevemos em outubro, a estratégia de António Costa, depois da esquerda lhe querer tirar o tapete, foi esvazia-la agitando o fantasma da Direita com o CH. Como se costuma dizer, se queres vender extintores tens de mostrar fogo. Foi o que o Partido Socialista fez, criando a sensação de que era necessário reforçar o voto em António Costa, a única esquerda estável e fiável. Era lógico que PC e Bloco iriam ser penalizados por romper a Geringonça.

Mas quem leu este texto, já ia avisado ( Agora não vale a pena fugirem )

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Desde que os dois novos partidos, Iniciativa Liberal (IL) e CHEGA! (CH) apareceram, que se tentam encontrar tanto os motivos para terem aparecido como as suas principais fontes de importação de militantes e apoiantes.

Um dos principais apontados é sempre o CDS-PP, ainda que já esteja devidamente provado que, principalmente no caso do CH, vão beber a várias fontes. E ainda que também seja um exercício mais dado à imaginação, pois que eu saiba ainda não existem fichas de militância em que perguntam pelo ex-partido.
Essa ideia está ligada ao facto dos centristas não conseguirem performances animadoras nas sondagens. Vale o que vale, não é o assunto que me leva a escrever este texto.

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O que me traz aqui hoje é o sub-aproveitamento que o CDS fez da existência destes dois partidos, que se nota ainda mais agora em período de campanha.
Francisco Rodrigues dos Santos (FRS) podia ter aproveitado para trazer ao de cima alguma diferenças relevantes entre o que significa ser/estar no CDS e o que representa ser/estar na IL ou no CH. Ou por outra, até o tentou fazer, mas creio que da forma menos conseguida (sem ofensa para os novos outdoors).

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O ideal, como é óbvio, é que os partidos definam as suas mensagens com muita antecedência face às eleições, que aproveitem esse tempo para ir incutindo ideias e propostas e, no final, o culminar desse trabalho seja uma campanha focada na consolidação e reforço de mensagens chave. Nenhum partido faz isto, acham todos que é em 30 dias que vão reunir com meio mundo e convencer as pessoas que o seu projeto é o melhor.
É como recolher um frasco de areia da nossa praia favorita e ir à praia ao lado espalhá-la no chão e pedir as pessoas para que a pisem e percebam que a nossa praia é a melhor. Enfim, adiante.

O que ainda assim o CDS podia ter feito, porque era possível, era explicar aos poucos que atentam aos micro debates televisivos e aos não tão micro debates radiofónicos, porque é que, ao contrário do que os pensadores (comentadores) oficiais do reino vaticinam, o aparecimento de 2 partidos à direita, não é uma sentença de morte para o histórico PP.

O Centro Democrático Social - Partido Popular, é um partido que abrange, ideologicamente, o espectro que vai do centro à direita (Centro > Centro-Direita > Direita ). É uma organização política sobre a qual, após o 25 de abril, ficou com o ónus de representar toda a Direita, após a proibição de todos os partidos desse espectro. A sua existência, ao início, não foi pacífica e foi preciso bastante resiliência para chegar aos dias de hoje.

O que é certo, e o que se tornou numa imagem de marca do partido, foi a qualidade que acrescentava à intervenção política. Por trazer propostas e protagonistas que elevavam a fasquia. Isso é unânimemente reconhecido entre eleitores e entre políticos. Não significa concordar com as posições do partido, mas sim reconhecer-lhe uma prática de valor, naturalmente conduzida por intervenientes que demonstravam coerência, habilidade e respeito entre pares.

Ora isso não era obra do acaso, e eu direi que tem um ingrediente fundamental:

A cooperação, o equilíbrio e produtividade que advém quando juntamos à mesma mesa os três principais pilares ideológicos do partido - o liberalismo, o conservadorismo e a democracia-cristã.

Os 3, conjuntamente, é que tornaram o projeto "CDS" num projeto de centro à direita equilibrado. Nem demasiado avesso à mudança, nem apenas interessado em cifrões, nem com pretensão de se tornar num partido clerical. A coexistência destas 3 artérias, a bombear para o objetivo de melhorar consistentemente o país, permite que nenhuma se sobreponha.

E para que é que isto interessa?
Para refletir sobre se realmente o CDS-PP ficou ou não amputado com o aparecimento da Iniciativa Liberal e do CHEGA!.

Reparem que é perfeitamente legítimo que FRS queira construir uma ideia de que o CDS é um partido conservador apenas. Um caminho que eu não aconselharia, mas legítimo. Ele e a sua Direção, com os devido aconselhamentos (ou não), acharam que o CDS tinha de encontrar um novo espaço, um novo lugar, entre a IL e o CH.
Como uns dão a ideia de que são muito modernos e inovadores e os outros de ser a direita do bota-abaixo, do protesto, achou FRS que o novo papel dos centristas é o de se asssumirem como "Direita Certa", "Direita Tradicional" ou "Direita Clássica" como diz Telmo Correia.

Na minha humilde opinião, a narrativa que este partido devia ter adotado, até porque é aquela que me parece fazer mais sentido tendo em conta não só o percurso histórico em Portugal, mas também a família política europeia a que pertence, era a de chamarem a si valores que são naturalmente apreciados na nossa cultura: serenidade, sensatez, equilíbrio, humildade.
Ou seja, afirmar-se como o centro da Direita.

Porque é indiscutível que os portugueses, e podemos mesmo dizer o próprio ser humano, tem uma atração natural por pontos de equilíbrio. Gosta de estar associado a valores de referência. "No meio está a virtude", porque o meio assume-se como capaz de absorver o melhor do que o rodeia.

A forma correta de o CDS recuperar estatuto, é tornando-se no ponto de encontro dos valores que os simpatizantes e demais eleitores afectos à Direita, aspiram ver aplicados nas suas vidas. A voz da razão, do bom senso. O adulto na sala que ouve, pensa e depois fala.

Nesse sentido será útil a este partido afirmar que a IL e o CH não o prejudicaram, mas sim criaram mais uma peneira, mais um apuramento que ajudou novamente ao reequilibrio do CDS. Explicado de outra forma, a mensagem em extended version seria algo como:

Quem apenas via cifrões à frente, quem fazia tábua rasa dos valores e tradições que são abundantes numa nação com 900 anos de história. Quem tem uma forma de ver o mundo no qual o dinheiro tudo paga, tudo substitui, encontrou um lugar confortável na IL. A Direita que prescinde de qualquer moral e que não se incomoda com a destruição de valores humanos por um "preço justo", não é a Direita que o CDS quis alguma vez ser. E essa é uma forma de estar que devem justificar o porquê de não partilharem dela. 

Devem explicar que não vêem os vícios destruidores, os dramas e problemas das pessoas como oportunidades, e que por isso projectam um Estado que renuncia  a qualquer cêntimo proveniente da droga ou da prostituição. Que é preferível investir na prevenção destes problemas e na ajuda a quem quer recuperar as suas vidas. Um filho que mata os pais para os roubar, motivado pelo vício, não é um possível cliente de uma venda legalizada de droga. É alguém a quem a droga levou à rutura total com a sociedade em que vive.
Um ser humano que vive da exploração sexual de outros seres humanos não é um possível empresário.  E não, a  maioria das pessoas que se prostituem não o fazem por gosto.

Aqueles que procuram explorar as frustrações da população, canalizando-as para bodes expiatórios que não respondem. Aqueles que procuram ser ultramoralistas, que criam um ambiente de sharia (irónico não é?) tão grande que as propostas mais abjetas são ditas com naturalidade. Os que consideram que vale tudo na punição e que o braço armado do Estado não tem de prestar contas a ninguém, esses encontram um lugar confortável no CH.

A esses o CDS deve dizer que há uma diferença entre respeito e medo. Entre rigor e fiscalização em contraste com a generalização e a humilhação. Que a única coisa que liga estes dois novos partidos ao CDS é o desejo de contas certas no caso de um, e de justiça no caso do outro. Mas que ambas as bandeiras as foram buscar ao mais familiar partido do Centro Direita, e que fora dele fazem uma defesa hiperbolizada e disfuncional delas.

Um liberal sem a influência da democracia-cristã e do conservadorismo, torna-se a caricatura do capitalista sem coração. Um conservador com más companhias torna-se num populista sem soluções e apenas com críticas para apresentar.  Apenas juntos criam valor e isso só se encontra no CDS, se este se souber auto-aproveitar e relembrar que sempre foi no centro da Direita que se defendeu a liberdade, a responsabilidade, a diversidade e a humanização.

Devem demonstrar que, sem exageros nem fixações, continuam a ser os que contrapõem à burocracia, à política de remendos, ao ludibriar com a "gratuitidade", da Esquerda, um projeto de responsabilização, prevenção, transparência e eficácia. Que não se fazem omoletes sem ovos e que Roma não se faz num dia. Que na moderação e na capacidade de escutar e de apostar em nós é que se leva um país a bom porto.

PS: Hoje há CDS vs CHEGA! em debate, confesso-me curioso.

3 motivos pelos quais André Ventura é imbatível em debates

Começou no dia 2 mais uma ronda de debates alusivos a eleições, desta vez Legislativas.

220103_debate-1600x740.jpgDitou o sorteio dos debates que no primeiro dia da ronda de debates televisivos, tivéssemos os dois extremos do hemiciclo em debate. A seguir a um morninho, quase frio, debate entre o primeiro-ministro, António Costa, e o candidato do Livre, Rui Tavares - houve quem dissesse que se tratou de uma entrevista de emprego -, tivemos um encontro que prometia ser escaldante entre Catarina Martins, do Bloco de Esquerda e André Ventura do CHEGA! .

Poker Face - a líder bloquista tentou adoptar uma estratégia diametralmente oposta à da sua correligionária Marisa Matias, aquando dos debates para as Presidenciais, com o mesmo adversário. Ou seja, em vez de reagir às cargas de ombro e aos carrinhos de Ventura, digo, às interrupções e provocações, Catarina Martins tinha delineado fazer-se impávida e serena.

Nem tanto à Terra, nem tanto ao Mar - porém, a estratégia levada demasiado à letra e ainda teve alguns pormenores insólitos. É que se grande parte dos ataques desferidos por Ventura foram roboticamente ignorados pela líder do Bloco, outros a bloquista optou por responder... com recurso a citações do Papa Francisco. Sim, a coordenadora do Bloco de Esquerda escudou-se em frases e atitudes do líder da organização que os seus militantes mais detestam (a seguir ao CH), a Igreja.

Imagem final - naquele que era provavelmente o debate mais relevante para ambos os candidatos, primeiro porque as sondagens dizem que disputam o 3º lugar, segundo porque cada um deles representa a piñata preferida dos militantes do partido do adversário, a imagem que fica é de uma Catarina Martins "congelada" a receber acusações e perguntas que não abonam em seu favor ficarem sem resposta. Do outro lado, mais uma vez, Ventura cumpriu o ponto de satisfação dos seus militantes e apoiantes.


No dia seguinte, ditava o calendário que o líder do CH defrontasse o presidente do PSD, Rui Rio. Não me irei alongar nos comentários a este debate, senão nunca mais chegamos ao cerne da questão. O que importa reter de ambos os debates, é que em ambos poderíamos confortavelmente assumir que Ventura venceu. Notou-se que Rui Rio tinha dificuldade em lidar com o que estava à frente dele e passou parte do debate a discutir as propostas que Ventura lhe lançava. E alguém questionará: então ganha sempre?
Quase. Podemos dizer que em 99% dos debates, André Ventura entra sempre em xeque-mate. Porém isso não se deve apenas à sua capacidade de tagarelar à velocidade da luz.

 


Vamos então aos 3 motivos pelos quais é tão difícil passar a imagem de vitória num debate com o líder dos cheganos.


A parte que cabe aos partidos - Anos e anos de descredibilizacao política, e de descredibilizacao da política originaram uma população desinteressada na res-publica e profundamente abstencionista.
Os partidos não se preocuparam nunca em adaptar-se aos tempos, cultivam ainda hoje as mesmas táticas, as mesmas formas de passar mensagem, como se tivesse uma amplitude de votos garantida. Continuam hoje a dar-se ao luxo de não pedir desculpa por um erro, de recusar medidas de transparência ou de manter políticos associados a crimes, no ativo. Gerou-se um "são todos iguais, todos roubam", cada vez mais audível.

A parte que cabe aos Governos - Anos de instabilidade em matérias essenciais, como o delinear de um modelo educativo, que é traçado e retraçado conforme a orientação ideológica do Governo do momento, acabaram por negligenciar a formação de cidadãos com maturidade para abraçar os direitos e deveres de uma cidadania ativa e responsável.
Essa negligência nota-se desde o momento em que alguém não está familiarizado com o significado da sigla I.R.S. até aos que ignoram por completo o nome do primeiro-ministro do país em que vivem. Cidadãos alheados da realidade, criam políticos moralmente fracos, que se aproveitam destas fragilidades da sociedade para dizerem o que querem e tomarem as decisões que lhes apetecem por não temerem o escrutínio do povo.

A parte que cabe aos jornalistas - Uma comunicação social que entrou em loop, entre a falta de educação para os media, a consequente falta de dinheiro e a incapacidade de se renovar ao mesmo tempo que cumprem os seus deveres para com a população, de servir através da informação e do escrutínio do poder. Limitam-se hoje ao entretenimento, sendo que nao há uma única esfera da nossa vida que seja analisada para além das audiências.
Vemos isso, mais uma vez, no ridículo tempo que disponibilizam para os candidatos às eleições debaterem publicamente os seus projetos políticos. Cerca de 12 min para cada um, e nem mais um segundo. São apenas as eleições em que os portugueses decidirão o próximo Governo de Portugal, não é necessário despender demasiado tempo com isso...
deixo também o desafio para que fiquem atentos ao teor da maioria das perguntas dos moderadores dos debates: perguntam mais sobre as propostas ou sobre geometria parlamentar (com quem é que se junta para formar governo, o que faz se tiver menos deputados, etc). O que é saímos a saber dos programas de cada partido?

Estes ingredientes formam o bolo que torna um projeto e um político como André Ventura, blindados em quase todos os ângulos.
Reparem que neste momento, o político que alegadamente está em ascendência, que consegue que tudo o que diz ou faz seja mediatizado, que reúne milhares de euros em donativos, é exatamente o tipo de político que toda a gente acharia impossível de conseguir algo sequer parecido há poucos anos.
Impossível porque como se sabe, o CDS  já era intitulado extrema-direita, daí que qualquer partido ou político que alegasse ser mais à direita do que o CDS, incorria na pena de ostracização e no atestado de seita de "maluquinhos".

No entanto, num par de anos temos uma comunicação social a levar ao colo um político a que os próprios agentes dessa comunicação social não se inibem de intitular de populista de direita ou extrema direita. Como é que chegámos aí? Porque é os jornalistas não gostando dele, não conseguem viver sem ele? Audiências. Um "maluquinho" (salvo seja porque se há coisa que Ventura não é, é maluquinho apesar de não se poder dizer o mesmo de muitos dos que o rodeiam), dá muito mais audiências que um político cinzentão, a debitar o mesmo politiquês que já se debitava há 30 anos. Ainda para mais em 15 min.

O André vence qualquer debate, porque não é escrutinado nem pelos jornalistas nem pela população, porque se atreve a ir mais longe na demagogia que os políticos do costume e utiliza as mesmas frases de senso comum de um povo que foi mal-educado e que está tão saturado de políticos que só os quer ver em pânico a tentar reagir às bocas e às acusações de Ventura. Tenham elas fundamento ou não.
É nesse colete à prova de balas, que ele consegue simultaneamente dizer que o PSD é igual ao PS mas que ele quer governar em conjunto com eles, que já propôs o internamento compulsivo de pessoas com covid mas agora diz que todas as medidas representam um apartheid sanitário, ou que os deputados do CH nos Açores, que lhe desobedeceram e não acataram a ordem de romper o acordo com os restantes partidos, na verdade não lhe desobedeceram mas deram sim um "Murro na mesa" para conseguirem a implementação das suas propostas.


Nunca se consegue confrontar o líder do CH com uma incoerência porque ele responde que é uma evolução de pensamento e os seus apoiantes engolem. Não o podem relembrar do seu passado no PSD, porque ele responde que não tinha responsabilidades governativas, ainda que ele faça as mesmas acusações aos adversários quando estes muitas vezes também não as tinham. Não se consegue completar uma frase que ele note que não lhe vá ser proveitosa sem que interrompa rapidamente com perguntas retóricas.

O André não vence todos os debates porque eu já o vi perder um, mas não é fácil conseguir ultrapassar estes obstáculos que o tornam tão escorregadio. O único político que até hoje conseguiu a proeza, foi outro que talvez seja tão escorregadio quanto o presidente do CHEGA! : falo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. São várias as pessoas que se cruzaram com o Marcelo, ao longo dos anos, que mais tarde o relembram com uma figura reptiliana, de grande perspicácia e capacidade de desferir golpes implacáveis nas costas.
Pouco interessam esses atributos para um debate, mas deve ser o único político na atualidade que consegue, tanto numa entrevista como num debate, manter um raciocínio assertivo e coerente apesar de estar a ser interrompido, como se nada fosse. Aliás, quem o tenta interromper normalmente acaba por desistir. Esse foi o grande trunfo no debate com Ventura, é que este não o conseguia parar.


Por falar em debates, hoje há três e eu fico-me por aqui. Para quem não tenha tempo de ver os debates no momento em que dão e não esteja para saltar de canal em canal e andar para trás, a RTP Play disponibiliza todos os debates, de todos os canais, no site.

PS: Feliz Ano Novo!




O PSD fez o que era expectável. Durante esta semana ficámos a saber que a Direção do PSD chumbou a coligação pré-eleitoral com o CDS. Pelo que veicula na comunicação social, Rui Rio não se pronunciou e deixou a sua Comissão Política Nacional decicidir sem influência do presidente.


Secalhar alguém lê esta informação e pensa que é um gesto muito democrático de Rui Rio. Aliás até pode ter sido esse o objetivo de Rui Rio ao passar esta informação para a comunicação social: enganar alguém mais distraído.


No entanto, lamento desiludir, mas Rui Rio não se pronunciou porque já sabia que decisão seria tomada pela CPN e possivelmente por toda ela, tendo os 3 votos a favor sido feitos para a notícia não fosse a unanimidade contra o CDS - não esquecer que podem ainda precisar do partido de Francisco Rodrigues dos Santos.

Percebo o argumento de alguns, do PSD e do CDS, de que os seus partido precisam de ir sozinhos para mostrarem o que valem. Porém, o que espero de líderes políticos do espectro não socialista, após 6 anos de governação ininterrupta do Partido Socialista, e com tudo a apontar para mais 4, é pragmatismo.
E este pragmatismo passa por ter a humildade e a inteligência de ver que há uma marca política de centro-direita que funciona em Portugal. Essa marca chama-se PSD/CDS, venceu as duas últimas eleições legislativas e conseguiu muito bons resultados nestas últimas autárquicas, até mesmo no alentejo.

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O pragmatismo de reerguer esta marca, dota-la das ferramentas e dos recursos humanos necessários para relembrar aos eleitores que esta é uma marca de confiança, de boa governação e de boa aceitação internacional. Que é a marca não socialista por excelência, em que milhares de portugueses confiaram localmente, e que é sempre chamada para resolver os problemas gravíssimos que são deixados nas secretárias dos ministérios quando se deixam por lá muito tempo os socialistas e as suas famílias.

Este modo de ver a política, como um serviço e sobretudo agora como uma missão de salvação do país (digo mesmo salvaçao, pois basta lermos todos os indicadores de crescimento para ver que Portugal é o país que mais afunda na UE, e em que os cidadãos vivem cada vez pior) de uma rota de desastre irrecuperável seria o que se exige num momento destes. Este seria o momento para o fazer. Não foi o entendimento do PSD. Porquê?

Porque como bom partido de caciques e de jogo político pelo poder, o PSD não consegue limpar as remelas do maquiavelismo. Não seria grave se estivessem a fazê-lo contra a Geringonça, mas optam por fazê-lo contra Portugal. Tal como o escorpião, que não consegue recusar a sua natureza, também o PSD não consegue evitar de ser traiçoeiro e, fazendo uso das sondagens que Rui Rio tanto critica, acha que é o momento ideal para se descartar do CDS, considerando que desse modo lhe dão a estocada final.

Este é um PSD que se demonstra pouco recomendável. Na incerteza e na avaliação de cenários possíveis, Rui Rio e os seus correligionários preferiram a probabilidade de matar o CDS, que a probabilidade de com o CDS, afastar António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa do poder.

Todos iremos sofrer as consequências desta decisão. Até Rui Rio.

Os socialistas são do pior, têm destruído o país e permitido um lastro de corrupção. Por estes e outros motivos, é necessário afastar o PS do poder o mais rapidamente possível.
O PSD é o PS-2, por isso não merece a confiança dos portugueses. Dito isto, estou disponível para integrar um Governo do PSD, se tiver 4 ministérios. Porque o PSD é o PS-2, e o PS é terrível.

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Não, não estou maluco. Estou a resumir a lógica com que André Ventura nos brindou na última semana e meia. É líder partidário mais fléxivel alguma vez ja visto. Ou mais troca-tintas. Diria até que deve ser o líder que mais toma por parvos os seus eleitores.
O presidente do Chega! diz tudo e o seu contrário, várias vezes, sem que ninguém o confronte com isso. Aí, a culpa é de uma comunicação social que, como já natural, se demonstra amadora quando tem de escrutinar políticos. Findo o Congresso do partido de Ventura, e correram imediatamente a morder todos os iscos que ele lançou: por exemplo, falar em "Deus, Pátria, Família e Trabalho" para a seguir dizer que representa Sá Carneiro ou lançar para o ar a ideia de que há um deputado do CDS que poderia vir a migrar para o CH. Os jornalistas lambuzaram-se com estas declarações e esqueceram-se e fazer o seu trabalho.

Só é lamentável que, por inércia do PSD, CDS e IL, a caricatura da direita esteja a tomar forma de real representação. Será prejudicial que futuramente, nem à direita nem à esquerda, exista seriedade e atitude reformista.

Na outra ponta do espectro, o irmão gémeo do CH, tambem teve mais um clássico momento em que revelou aquilo que é. Um projecto que assenta na infantilização do eleitorado, com vista à polarização. Por outras palavras,  "o que defendemos tem objetivo de melhorar a tua vida, o que os outros defendem tem o objetivo de prejudicar a tua vida".

Os "Jovens do Bloco" brindaram-nos com uns belíssimos panfletos, de layout igual aos da Iniciativa Liberal, ao quais tiro o chapéu pelo esforço, mas que unicamente tinham como mensagem dizer que a IL vinha aí para nos fazer mal.
Não se pode esperar muito de um partido trotskista, que vê nos projetos alternativos um alvo a abater (literalmente), no entanto confesso que ainda me surpreenderam, talvez porque já não faziam uma destas desde o tempo da troika, em que queriam que acreditássemos que o Passos Coelho se levantava de manhã e bebia um cocktail com o sangue das nossas carteiras.

"Slogans coloridos, promessas de amor ao "mérito" e ódio à esquerda. Os liberais vestem-se de novo com ideias velhas. O seu programa encontra-se na IL, CH e direita tradicional. Não querem saber do teu emprego, da tua vida, do mundo em que vivemos.Os liberais declararam-te guerra." - a descrição que juntam à divulgação nas redes sociais, dos seus magníficos panfletos.

 

O cúmulo dos cúmulos, é mesmo dizerem que os liberais são "os melhores amigos dos ditadores". Tal como no Chega, o Bloco também quer passar atestados de estupidez aos portugueses. Felizmente está bem documentado o apoio dos militantes do Bloco de Esquerda a ditadores e a ditaduras, ou não fosse este um partido comunista.
Produzir panfletos para pura difamação e tentativa de degradação de imagem de outros partidos é um degrau importantíssimo rumo à lama política. São estes senhores que depois fingem ser contra a polarização da política, atribuindo-a à postura dos partidos da direita.


Foram estes os flagrantes momentos de política rasteira que pudemos observar só nesta última semana e meia, por parte dos nosso dois partidos mais rasteiros (desculpem a repetição) em atividade.

Quem não se revê nesta forma de exercer a política, no reduzir daquela que devia ser uma atividade nobre,à ofensa gratuita e à mentira, tem um papel a desempenhar. Esse papel passa por não ceder, por muito tentador e fácil que seja agir desta forma, a este nível baixo de política. Passa por exigir dos partidos a maturidade e a postura institucionalista que devem ter. Que apresentem propostas e que andem na rua sim, mas para nos ouvir. Exigir que não deixem o país enredar-se num lamaçal improdutivo. Que se foquem em não atrapalhar a vida a quem quer produzir e procurar a sua felicidade em Portugal.



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