Uma pessoa decente pode achar que não se coaduna com a posição de deputado da nação, querer deliberada e ardilosamente falsear a publicação de notícias para finjir que a realidade bate certo com aquilo que diz.
Uma pessoa decente pode achar que não se coaduna com a posição de deputado da nação, chamar conas aos adversários políticos.
Uma pessoa decente pode achar que não se coaduna com a posição de deputado da nação, tirar fotos em pose de oração nas igrejas para instrumentalizar a religião.
Porém há que reconhecer algo: este partido e este chefe de partido, têm um objetivo e um público-alvo, e não se desviam um milímetro do traçaram. O objetivo é aparecer, aparecer aparecer. O público-alvo é quem, por desconhecimento ou desilusão rejeita por definição a política e os políticos. Como as pessoas que não entendendo um quadro, dizem imediatamente que é lixo.
Para este partido e este chefe de partido, não há linhas vermelhas. Tudo é válido desde que os objetivos sejam concretizados. Para o público-alvo, idem. Tudo é valido desde que continuem a obter a satisfação de ver André Ventura e a sua turma a dizer algo que perturbe, que gere reacções quentes, que tire do sério.
Os primeiros nunca sentem necessidade de pedir desculpa por nada (excepto se isso der jeito para aparecer como aconteceu agora com o Papa), os segundos desculpam os primeiros de tudo.
Aliás se este texto passar pelos olhos dos que se enquadram no público-alvo do CH, a primeira laracha que vão dar é: estes fazem isso tudo mas os outros são corruptos. Como se estivéssemos a falar de corrupção, como se por apontarmos esta falta de limites éticos e morais fosse o equivalente a desculparmos a desonestidade de quem corrompe e é corrompido. Como se estas demonstrações que o CH dá, de comportamente diário dos seus dirigentes, não fossem sinais de que, tendo poder, farão o mesmo ou pior que os socialistas fazem atrás da cortina.
O público a quem Ventura coerentemente chega é o que confunde ser violento com ser aguerrido, e que a frontalidade passa necessariamente por ser bronco e mal educado para os outros.
Este partido e este chefe de partido, não têm forma de se lhe apelar à razoabilidade, pois eles não se regem pelos mesmos valores nem seguem as mesmas regras que os restantes agentes políticos ou cívicos. Não vale a pena criticá-los por fazerem X ou Y, nem tentar apontar incoerências no que dizem ontem e fazem hoje. Não se incomodam minimamente desde que tenham conseguido atenção.
O que é que gerou isto? Um desinteresse da classe governativa em incentivar o exercício da cidadania, desde cedo, nas escolas. Agora é tarde, agora temos várias gerações que não percebem, não querem perceber e se ficam quanto muito pelos bitaites que vão ouvindo na TV. Quanto muito, porque a maioria não quer mesmo saber.
O que também gerou isto foi uma classe política que se tornou arrogante, sobretudo da área do centrão, e que esticaram ao máximo a tolerância de um povo desinformado ouvir e ler diariamente que alguém se está aproveitar do cargo que exerce.
Portanto daqui vão acontecer duas coisas:
Como este partido não tem como ser chamado à razão, vai continuar a fazer o que melhor faz, que é dar show. Vai continuar manter a Direita partida e assegurar o PS. Com azar, até podem chegar a aumentar ainda mais o número de deputados e só pararão quando efetivamente se lhes pedirem decisões não saberão tomar. Só pararão de crescer quando tiverem um escrutínio sério ao seu exercício de cargos e se confirme que por lá também anda quem se aproveita.
Ou
Algures, na massa abstencionista deste país, haverá mais gente razoável, com sentido moral e ético, que fará o obséquio de começar a exercer o seu direito de votar, e pode ser que haja um reforço de uma Direita decente. Para isso também era preciso que os partidos fossem competentes a procurar captar a atenção de quem se abstém. Coisa que não têm sido.