A herdade da Comenda tem dado muito que falar, no último par de anos. Eu confesso que nem sabia que o Palácio incluia um tão vasto território na Serra da Arrábida. No entanto, se tinha um proprietário, tinha um proprietário, ainda que este não cuidasse da sua propriedade.
Durante anos os setubalenses estiveram habituados a invadir o Palácio para tirar as suas fotos, criar as suas aventuras. O parque de merendas, era de senso-comum, um parque de utilização pública. E as centenas de trilhos percorridos pelos exploradores, de bicicleta ou a pé, aposto que muito poucos tinham noção de que tinham dono.
Houve alguém que finalmente se interessou, comprou toda a propriedade e, legitimamente, vedou-a para a utilizar a seu bel-prazer. A Câmara Municipal fez a figura patética de ameaçar com uma expropriação, mas entretanto essa tolice não se concretizou.
Agora a polémica reabriu-se com o encerramento do Parque de Merendas, que vai ser reformulado e tornar-se num parque arqueológico, com o aval do Estado. Sabe-se também agora, que esta decisão estava tomada há bastante tempo, mas que a Câmara Municipal de Setúbal pediu aos proprietários para que só avançassem com a obra após as eleições. Sabiam muito bem que encerrar o mítico parque de merendas geraria revolta dos setubalenses, e ninguém deseja isso quando precisa de ir a votos, não é?
É de uma enorme hipocrisia assistir ao desenrolar de uma manifestação contra o encerramento da comenda, impulsionada por comunistas como o Miguel Tiago. Hipocrisia pois os seus camaradas sabiam disto e deram também luz verde. Hipocrisia do novo presidente, André Martins, que com um comunicado estéril no Facebook a fingir que bate no peito pela Comenda - sabendo que veio do Executivo anterior e que sabia de tudo isto.
A Câmara Municipal de Setúbal podia ter adquirido a Herdade da Comenda, assim o quisesse, quando os proprietários não queriam saber dela, e pelos vistos até estavam recetivos a propostas de compra. Falar em expropriações ou chorar lágrimas de crocodilo agora, é tentar enganar-nos a todos. A Comenda agora tem um dono que é interessado, assumam que permitiram que isso acontecesse, com um complacência que não se coaduna com a ideologia que defendem, e tenham a coragem de dizer as pessoas que vão ter de se habituar a uma nova relação com parte da Serra da Arrábida.