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The Pólis

Os partidos alicerce do Governo do Partido Socialista, percebendo a sua trajetória descendente de eleição em eleição, desde que aceitaram integrar a Geringonça, bater com a mão na mesa.

Só que nota-se à distância que o fazem apenas porque acham que desse modo recuperam a credibilidade e a "utilidade" que alguns eleitores lhes reconheciam. Eleitores esses que têm migrado para o PS, como seria de esperar neste "abraço de urso". O PCP e o BE sempre serviram para que os eleitores de esquerda pudessem ter escolha entre a esquerda do sistema (PS) e a esquerda "pura", revolucionária, de protesto contra a direita e às vezes contra a esquerda do sistema.

Essa função dissipou-se quando as esquerdas acordaram em apoiar-se. Para quê votar Bloco ou PCP se agora são parceiros do Governo socialista? Porque não votar PS se até já o Bloco e o PCP lhes reconhecem méritos ao ponto de os ajudarem?
O PS tornou-se assim o partido presidente da Federação das Esquerdas. O partido mais sensato, que leva realmente à letra "a união faz a força" e por isso diz publicamente que só quer conversar com a esquerda. Foi assim que o Partido Socialista se voltou a erguer e conseguiu conquistar eleitorado muito mais à esquerda do que o habitual. Consolidou-se no coração de socialistas, comunistas e simpatizantes.

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6 anos depois, há consequências a retirar. Toda a gente acha que quaisquer eleições estão no papo para o PS de António Costa. Enquanto os seus parceiros começam a ter dificuldades até onde estavam mais confortáveis, como aconteceu com o PCP nas Autárquicas.
Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, sem quererem, colocaram-se num beco sem saída: prosseguindo a parceria com o PS, vão emagrecer muito eleitoralmente. Rompendo, como parece que vai acontecer com este chumbo Orçamento de Estado, vão ficar com o ónus de destruição das pontes que uniam a esquerda.

Pensam agora, os dirigentes bloquista e comunista, que ainda vão a tempo de recuperar o que queimaram, queimando-se ainda mais. Optaram por se juntar à direita no voto contra, cometendo um acto que será interpretado por muitos como traição para com a esquerda. Abandonaram o PS que mais lhes deu espaço para influenciarem as políticas nacionais de sempre, porque acham que vão voltar a ganhar os pontos do tempo em que eram apenas partidos de protesto.

O Partido Socialista vai continuar a cimentar a sua posição de único partido em que vale a pena votar à esquerda. Isto porque fica para a história que lutaram pela existência de um entendimento alargado de esquerda, que permitisse evitar pelo máximo tempo possível o regresso da direita, e esse entendimento só não continuou porque Bloco e Partido Comunista não estiveram à altura da responsabilidade.

Nas próximas eleições, o único partido que vai poder utilizar o argumento de "senão votarem em nós terão que levar com a Direita" com eficácia, é o PS, que tem caminho aberto para fazer de calimero e pode agora dizer que é mesmo melhor que o eleitorado de esquerda lhes confira uma maioria, pois com o PCP e o Bloco não se pode contar.

Não é por acaso que o primeiro-ministro não se cansa de dizer que não lhe interessa um bloco central, não lhe interessa conversar com o PSD nem com ninguém para lá do PSD. Ele quer uma clara fronteira entre esquerda e direita, porque sabe que está a ficar com o monopólio dos votos da Esquerda. António Costa sugou a vida dos seus parceiros de Geringonça e não tem intenção de parar.


Gerou-se a indignação geral, as tropas digitais pró-liberdade já se reúnem, as fotos de telemóveis antigos circulam abundantemente pelas timelines das nossas redes sociais: "Não passarão!" proclamam do topo da sua cadeira de escritório IKEA.

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O Governo lançou, em conjunto com as medidas do mais recente Estado de Calamidade, a ideia de que a aplicação de telemóvel Stayway Covid tem de ser obrigatoriamente instalada por todos nós e, hoje já sairam manchetes de como já estão a mobilizar as forças de segurança para executar a necessária fiscalização.
Entretanto, já andamos todos a discutir sobre como tudo isto é uma afronta às liberdades de cada um, a Iniciativa Liberal lançou imediatamente uma imagem para se colocar na dianteira da defesa da liberdade e sugere-se em jeito de piada que o Governo vai oferecer smartphones.

António Costa e a sua equipa sabem muito bem que a regra de obrigatoriedade de instalação de uma aplicação não passa de uma tontice. O plano nunca foi realmente vir a fazê-lo mas caímos que nem tordos. O primeiro-ministro tem alguém muito maquiavélico e criativo na sua equipa, para ter tido esta ideia.

Era quase indiscutível que se teriam de tomar medidas face ao aumento exponencial de infetados com covid-19, mas há que ver que o mundo, e em específico o país não pára por isso. Estávamos a meio da discussão do Orçamento de Estado, documento esse no qual já foram encontrados vários erros, gralhas e ditos por não ditos. Os parceiros da Geringonça não revelam jogo e, particularmente o Bloco de Esquerda optou por acentuar o seu teatro pré-aprovação, com exigências novas todos os dias e declarações públicas.
O PSD, ainda que para o Executivo não conte como parceiro para aprovação do Orçamento (a ministra Mariana V Silva disse isso mesmo ontem em entrevista), não por falta de vontade de Rui Rio, também ainda não informou sobre o seu sentido de voto.
Este é também o primeiro OE sem o toque do Ronaldo das Finanças, ou seja, não usufrui de tanta credibilidade, e é um OE de preparação da crise. Todos sabemos que a crise é uma oportunidade para os partidos da oposição abrirem feridas aos Governos. António Costa não está para isso, e opta por um arriscadíssimmo virar do tabuleiro: A app será obrigatória nos telemóveis de toda a gente!

Não será. É impossível fazê-lo, quer pela impraticabilidade da fiscalização, quer pelos antagonismos que ia gerar, quer pela provável insconstitucionalidade da medida. 
Mas o Governo já instalou a app onde queria. Instalou-a nas nossas conversas virtuais e reais, nos partidos e nos meios de comunicação social. A app é o hot subject do momento, o que permite uma diminuição pacata do prazo até à data de aprovação do OE. O Bloco já não consegue fazer o seu teatro para animação interna, pois os orgãos de comunicação e a população não estão interessados. Já ninguém quer saber se o PCP vai votar favoravelmente ou não.
Os partidos da Direita, apesar de já terem sinalizado o voto contra, também agora só estão preocupados com os telemóveis da nação.
Esta folga permitirá pressionar o Bloco e o PC, que chegarão à data da votação do Orçamento sem ter reivindicado publicamente nada, e terão de aprovar o documento ou serão acusados pelo seu eleitorado de entregar o país à Direita novamente. Os parceiros da Geringonça vão ter de fazer as suas exigências em privado, pois o público está contaminado pela App do momento.

Está instalada a app e desinstalado o escrutínio. Parabéns aos envolvidos.

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