O Bem Maior
Desde José Rodrigues dos Santos a Marisa Matias
O conhecido pivô e escritor José Rodrigues dos Santos (JRS) foi, durante esta semana, o alvo preferencial dos justiceiros da linguagem, especialmente à esquerda. Numa entrevista que deu na Rtp, JRS cometeu o erro de não ser suficientemente explícito, de não fazer o gesto das aspas enquanto falava, e declarou:
“A certa altura, há alguém que diz: – Eh, pá, estão nos guetos, estão a morrer de fome, não podemos alimentá-los. Se é para morrer, mais vale morrer de uma forma mais humana. E porque não com gás?”, referindo-se claro, a uma das práticas mais horrendas do Holocausto.
Gerou-se o pânicos, e multiplicaram-se as partilhas, as condenações e as injúrias. Até deputados sentiram necessidade de expressar publicamente o seu repúdio pelo que tinha dito o escritor.
Afinal tínhamos durante anos recebido as notícias através de alguém que achava que as câmaras de gás foram uma forma humana de assassinar pessoas. Para JRS a sentença estava lida: é um apologista do nazismo dos tempos modernos.
É assim que funcionam as grandes intelectualidades da esquerda. Mas é mesmo, ou há uma intenção em não querer contextualizar?
Ao que parece, e na verdade era o mais lógico e sensato, pasme-se, ele afinal não estava a dar a sua opinião sobre as câmaras de gás! O que JRS, no excerto de vídeo que circulou um pouco por todo o lado, quis fazer foi explicar de forma simples o que dezenas de documentos e contactos que efetuou para sustentar o que escreve, lhe diziam acerca da prática e causa.
Como disse Michael Seufert na sua página de Twitter, não se conseguem convencer milhões de pessoas a seguir o que defendemos, se defendermos o mal. O que se fez há época foi aparentar fazer o bem - dar uma justificação humanista para as câmaras de gás - para conseguir colocar uma pessoa normal a perpetrar o mal.
Isto não é assim tão difícil de entender. Só que para os partidários da esquerda, para bloquistas e comunistas, não há vontade de entender, e os que entendem, sabem que não é conveniente assumi-lo.
Para algumas destas pessoas, a banalização do mal passa por banalizar o mal, quando na verdade se trata de ter gente banal a praticá-lo, em nome de um "Bem Maior". É mais confortável inventar escapatórias morais para quando fazemos algo que sabemos estar errado. Se quisermos ver a uma escala muito pequena, lembremo-nos das "mentiras piedosas".
O problema é que para as gentes do Bloco e do PCP, há também um "Bem Maior" a seguir, que é o de caricaturar, demonizar e ostracizar quem tenha um pensamento dissonante com aquilo que defendem. O caminho para esse Bem Maior não passa necessariamente pela verdade, e por isso é tão fácil ignorar factos em detrimento de um julgamento público, de apelo ao senso comum.
É até curioso que este diferendo tenha ocorrido no mesmo contexto temporal em que o slogan de campanha de Marisa Matias seja "Força Maior".
A Força Maior da Marisa passa por chegar onde tiver que chegar, independentemente da verdade ou da mentira.
É esta Força que a leva a dizer que é socialista, e mais tarde na televisão intitula-se de social-democrata.
É esta Força que a põe a jogar com meias verdades, como dizer que os hospitais privados recusaram tratar grávidas porque tinham covid - ela sabe que os hospitais privados até há bem pouco tempo, por ordem da DGS, não podiam tratar doentes covid. Fossem grávidas ou não.
É esta Força Maior que a impede de admitir que demora mais tempo, é mais caro e logisticamente ineficaz, estar a contratar mais médicos e enfermeiros a meio de uma pandemia, em vez de recorrer aos hospitais privados para tratar doentes - os hospitais públicos não vão aumentar de tamanho nem vão conseguir fazer as consultas e exames em atraso, por contratarem mais médicos e enfermeiros agora. A Força Maior impede Marisa Matias de admitir que tem preconceitos ideológicos com a iniciativa privada, e que esses preconceitos têm custado vidas.
A Força Maior da Marisa, é a mesma de toda a Esquerda: os fins justificam sempre os meios, sejam eles a mentira, a calúnia, a repressão ou a morte.