Quem olhe para os jornais, quem ouça alguns políticos, julga que desde domingo houve uma mudança brutal no clima político e que vêm aí tempos de grande fulgor para a Direita portuguesa.
A vitória de Carlos Moedas em Lisboa, contrariando expectativas e sondagens, parece ter subido à cabeça de alguns que agora dizem que os "Novos Tempos" do recém inquilino da Câmara Municipal da capital, serão o íncio de novos tempos para a Direita.
Lamento, mas olhando para o que se passou no domingo, não consigo ver o mesmo. Vejo que o PSD superou as expetativas, que Rui Rio geriu muito bem colocando-as sempre no chão, e conseguiu fazer melhor que há 4 anos. Quando a ambição é pouca, ninguém se desilude.
É claro que Lisboa é a autarquia mais mediática, e era sobre ela que estavam a maioria dos olhos postos (infelizmente). É certo que o PSD/CDS reconquistaram a CML das mãos de Medina. Só que não podemos ignorar, que será uma governação minoritária e na qual os partidos da esquerda vão continuar a ter mais peso.
Outro dado que não podemos ignorar é, já agora, o resto do país. E o que nos diz o resto do país é que o PS venceu estas eleições autárquicas e que a par deste só há um segundo partido que pode cantar vitória: o Chega. Com candidatos e candidaturas que não lembram a ninguém, sem propostas, e completamente ridicularizados em televisão nacional, o CH conseguiu canalizar os votos de protesto e acabou a eleger vereadores, deputados municipais e de freguesia um pouco por todo o país. Para primeira aparição em autárquicas, este partido fez um brilharete em comparação com todos os outros pequenos partidos e até com o Bloco de Esquerda.
Infelizmente, é ingénuo dizer-se que está dado o ponto de partida para o regresso da Direita democrática. Houve um fortalecimento, isso sim, da Direita que vive da destruição e que precisa de caos para respirar.
O PSD e o CDS ainda não demonstraram com firmeza que quem quiser enfraquecer o PS, é neles que tem de votar. A IL não entra para esta conta, pois demonstraram nestas autárquicas que estão mais preocupados em parecer um partido "diferente" que em enfraquecer o PS. Houve muitas oportunidades pelo país fora, de retirar mandatos ao PS, e até Câmaras Municipais, e que não se concretizaram graças à IL, que serviu de escudo protetor dos socialistas ao não se querer juntar ao CDS e ao PSD.
No final das contas, há um grande perdedor que é o PCP, que perde força no sul, onde ainda há portugueses que acham que eles têm utilidade.
Há dois líderes que se vão fazer valer de um suposto bom resultado nestas autárquicas para continuarem a sobreviver na liderança dos respetivos partidos, que são Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos.
Uma líder que vai tentar passar pelos pingos da chuva, já que a imprensa continua a ignorar o facto de o Bloco de Esquerda ter ficado reduzido a 4 vereadores a nível nacional. Em 20 anos de existência, o BE não consegue conectar-se com a população numas eleições de proximidade. Porque será...
A IL futuramente começará a ser penalizada por esta tentativa de não ser nem esquerda nem direita, e que por acaso, favoreceu muito a esquerda. No entanto, a par com o PAN, têm um resultado inócuo.
Os dois vencedores são, sem sombra de dúvida, António Costa, que continua a reinar sem dificuldade e Ventura que ganha agora implantação local real para disseminar a sua banha de cobra.