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The Pólis

Pois é, nova eleições, nova maioria socialista. Nos próximos quatro anos teremos António Costa e a sua "família" a porem e disporem da vida dos portugueses.

Se ele quiser pode, por exemplo, reconduzir o excelente ministro Eduardo Cabrita na pasta da Administração Interna, que ninguém pode fazer nada. Podem reclamar, chorar, se o PS quiser o PS faz. Também é isso que significa maioria absoluta.

A questão que fica é: Ficámos surpreendidos com esta vitória do PS e esvaziamento dos partidos da esquerda? Li muita a gente a escrever que sim. Certamente não frequentam este blogue, porque quem o frequenta não ficou.

Tal como prevemos em outubro, a estratégia de António Costa, depois da esquerda lhe querer tirar o tapete, foi esvazia-la agitando o fantasma da Direita com o CH. Como se costuma dizer, se queres vender extintores tens de mostrar fogo. Foi o que o Partido Socialista fez, criando a sensação de que era necessário reforçar o voto em António Costa, a única esquerda estável e fiável. Era lógico que PC e Bloco iriam ser penalizados por romper a Geringonça.

Mas quem leu este texto, já ia avisado ( Agora não vale a pena fugirem )

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A plataforma Esqrever, à semelhança do que elaborou em 2019 e que eu nao sabia que o tinha feito, publicou uma "análise" às propostas dos vários partidos, chamada "Legislativas 2022: O arco íris também vota".

Segundo o redator Diogo Pereira, o critério é simples "quanto mais e melhores medidas tiver o programa do partido, mais arco-íris ganha. Se tiver medidas discriminatórias e desinformação leva uma nuvem cinzenta. ".
Não sabemos que critério adopta o Diogo, para sentenciar uma medida como melhor nem como discriminatória, sabemos apenas que uns vão levar arco-íris e outros nuvens consoante o que ele achar.

Como devem estar a prever, quem ganhou mais arco-íris foram os partidos de esquerda. E digo que estão a prever porque infelizmente, relativamente a este tema, o senso-comum já está tão manipulado que se assume sempre à partida que à Esquerda estão as pessoas que respeitam a diferença e à Direita os que a discrimam e maltratam. Nada mais errado, mas é o que temos.

Assim sendo, o ranking ficou assim:

1º - BE
2º - PAN
3º - Livre
4º - PS
5º - CDU

a partir daqui já nenhum partido teve arco-íris. IL, PSD E CH não tiveram nada, o CDS teve uma nuvem negra sendo até acusado de "queerfobia".

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Não me irei alongar muito sobre esta avaliação, venho apenas escrever que infelizmente o que chamam de comunidade de pessoas LGBTQI+ , são pessoas que estão a ser instrumentalizadas através de uma política mais impulsionada por uns partidos do que outros, nos quais se destaca o BE, que as faz acreditar que as suas principais características, que as definem enquanto ser humano, são coisas como o género, a preferência sexual e noutros casos a etnia.

A Esqrever aqui, tal como em 2019, "pontua" positivamente esta atitude, para que se subentenda, propositadamente ou não, que as pessoas LGBTQI+, só têm propostas nestes partidos. Incentivando a que se desliguem de todo o seu papel na sociedade e que afunilem a sua atenção para propostas muitas delas meramente redundantes e sem significado prático.

Os restantes partidos, como não alinham na atribuição de um valor empolado ao genero e à preferência sexual de cada um, como tomam as pessoas por pessoas, levam uma recriminação. Porque propostas sobre finanças, economia, ambiente ou educação não são propostas para pessoas LGBTQI+ . Faz sentido, não faz?

 



Por último deixo uma citação do psicólogo Jordan Peterson acerca do tema, que me parece resumir bem o problema deste tipo de abordagem:

(...)Your identity is not the clothes you wear, or the fashionable sexual preference or behaviour you adopt and flaunt, or the causes driving your activism, or your moral outrage at ideas that differ from yours: properly understood, it’s a set of complex compromises between the individual and society as to how the former and the latter might mutually support one another in a sustainable, long-term manner. It’s nothing to alter lightly, as such compromise is very difficult to attain, constituting as it does the essence of civilization itself, which took eons to establish, and understanding, as we should, that the alternative to the adoption of socially-acceptable roles is conflict — plain, simple and continual, as well as simultaneously psychological and social.

The continually expanded plethora of “identities” recently constructed and provided with legal status thus consist of empty terms which (1) do not provide those who claim them with any real social role or direction; (2) confuse all who must deal with the narcissism of the claimant, as the only rule that can exist in the absence of painstakingly, voluntarily and mutually negotiated social role is “it’s morally wrong to say or do anything that hurts my feelings”; (...)



Tradução:

"(...)A sua identidade não são as roupas que veste, nem a preferência sexual ou comportamento elegante que adota e exibe, ou as causas que impulsionam o seu ativismo, ou a sua indignação moral com ideias que diferem das suas: devidamente compreendidas, é um conjunto de compromissos complexos entre o indivíduo e a sociedade sobre como o primeiro e o segundo podem apoiar-se mutuamente numa sustentável, maneira a longo prazo.
Não é nada que altere de ânimo leve, pois tal compromisso é muito difícil de alcançar, constituindo como faz a essência da própria civilização, que demorou a estabelecer, e compreender, como deveríamos, que a alternativa à adoção de papéis socialmente aceitáveis é o conflito simples, simples e contínuo, bem como simultaneamente psicológico e social.
A pletora continuamente alargada de "identidades" recentemente construídas e dotados de estatuto jurídico consiste, portanto, em termos vazios que (1) não conferem àqueles que as reclamam qualquer papel ou direção social real; (2) confundir todos os que têm de lidar com o narcisismo do requerente, pois a única regra que pode existir na ausência de um papel social meticuloso, voluntariamente e mutuamente negociado é moralmente errado dizer ou fazer qualquer coisa que magoe os meus sentimentos (...)"
 
 
 
 
 
 

3 motivos pelos quais André Ventura é imbatível em debates

Começou no dia 2 mais uma ronda de debates alusivos a eleições, desta vez Legislativas.

220103_debate-1600x740.jpgDitou o sorteio dos debates que no primeiro dia da ronda de debates televisivos, tivéssemos os dois extremos do hemiciclo em debate. A seguir a um morninho, quase frio, debate entre o primeiro-ministro, António Costa, e o candidato do Livre, Rui Tavares - houve quem dissesse que se tratou de uma entrevista de emprego -, tivemos um encontro que prometia ser escaldante entre Catarina Martins, do Bloco de Esquerda e André Ventura do CHEGA! .

Poker Face - a líder bloquista tentou adoptar uma estratégia diametralmente oposta à da sua correligionária Marisa Matias, aquando dos debates para as Presidenciais, com o mesmo adversário. Ou seja, em vez de reagir às cargas de ombro e aos carrinhos de Ventura, digo, às interrupções e provocações, Catarina Martins tinha delineado fazer-se impávida e serena.

Nem tanto à Terra, nem tanto ao Mar - porém, a estratégia levada demasiado à letra e ainda teve alguns pormenores insólitos. É que se grande parte dos ataques desferidos por Ventura foram roboticamente ignorados pela líder do Bloco, outros a bloquista optou por responder... com recurso a citações do Papa Francisco. Sim, a coordenadora do Bloco de Esquerda escudou-se em frases e atitudes do líder da organização que os seus militantes mais detestam (a seguir ao CH), a Igreja.

Imagem final - naquele que era provavelmente o debate mais relevante para ambos os candidatos, primeiro porque as sondagens dizem que disputam o 3º lugar, segundo porque cada um deles representa a piñata preferida dos militantes do partido do adversário, a imagem que fica é de uma Catarina Martins "congelada" a receber acusações e perguntas que não abonam em seu favor ficarem sem resposta. Do outro lado, mais uma vez, Ventura cumpriu o ponto de satisfação dos seus militantes e apoiantes.


No dia seguinte, ditava o calendário que o líder do CH defrontasse o presidente do PSD, Rui Rio. Não me irei alongar nos comentários a este debate, senão nunca mais chegamos ao cerne da questão. O que importa reter de ambos os debates, é que em ambos poderíamos confortavelmente assumir que Ventura venceu. Notou-se que Rui Rio tinha dificuldade em lidar com o que estava à frente dele e passou parte do debate a discutir as propostas que Ventura lhe lançava. E alguém questionará: então ganha sempre?
Quase. Podemos dizer que em 99% dos debates, André Ventura entra sempre em xeque-mate. Porém isso não se deve apenas à sua capacidade de tagarelar à velocidade da luz.

 


Vamos então aos 3 motivos pelos quais é tão difícil passar a imagem de vitória num debate com o líder dos cheganos.


A parte que cabe aos partidos - Anos e anos de descredibilizacao política, e de descredibilizacao da política originaram uma população desinteressada na res-publica e profundamente abstencionista.
Os partidos não se preocuparam nunca em adaptar-se aos tempos, cultivam ainda hoje as mesmas táticas, as mesmas formas de passar mensagem, como se tivesse uma amplitude de votos garantida. Continuam hoje a dar-se ao luxo de não pedir desculpa por um erro, de recusar medidas de transparência ou de manter políticos associados a crimes, no ativo. Gerou-se um "são todos iguais, todos roubam", cada vez mais audível.

A parte que cabe aos Governos - Anos de instabilidade em matérias essenciais, como o delinear de um modelo educativo, que é traçado e retraçado conforme a orientação ideológica do Governo do momento, acabaram por negligenciar a formação de cidadãos com maturidade para abraçar os direitos e deveres de uma cidadania ativa e responsável.
Essa negligência nota-se desde o momento em que alguém não está familiarizado com o significado da sigla I.R.S. até aos que ignoram por completo o nome do primeiro-ministro do país em que vivem. Cidadãos alheados da realidade, criam políticos moralmente fracos, que se aproveitam destas fragilidades da sociedade para dizerem o que querem e tomarem as decisões que lhes apetecem por não temerem o escrutínio do povo.

A parte que cabe aos jornalistas - Uma comunicação social que entrou em loop, entre a falta de educação para os media, a consequente falta de dinheiro e a incapacidade de se renovar ao mesmo tempo que cumprem os seus deveres para com a população, de servir através da informação e do escrutínio do poder. Limitam-se hoje ao entretenimento, sendo que nao há uma única esfera da nossa vida que seja analisada para além das audiências.
Vemos isso, mais uma vez, no ridículo tempo que disponibilizam para os candidatos às eleições debaterem publicamente os seus projetos políticos. Cerca de 12 min para cada um, e nem mais um segundo. São apenas as eleições em que os portugueses decidirão o próximo Governo de Portugal, não é necessário despender demasiado tempo com isso...
deixo também o desafio para que fiquem atentos ao teor da maioria das perguntas dos moderadores dos debates: perguntam mais sobre as propostas ou sobre geometria parlamentar (com quem é que se junta para formar governo, o que faz se tiver menos deputados, etc). O que é saímos a saber dos programas de cada partido?

Estes ingredientes formam o bolo que torna um projeto e um político como André Ventura, blindados em quase todos os ângulos.
Reparem que neste momento, o político que alegadamente está em ascendência, que consegue que tudo o que diz ou faz seja mediatizado, que reúne milhares de euros em donativos, é exatamente o tipo de político que toda a gente acharia impossível de conseguir algo sequer parecido há poucos anos.
Impossível porque como se sabe, o CDS  já era intitulado extrema-direita, daí que qualquer partido ou político que alegasse ser mais à direita do que o CDS, incorria na pena de ostracização e no atestado de seita de "maluquinhos".

No entanto, num par de anos temos uma comunicação social a levar ao colo um político a que os próprios agentes dessa comunicação social não se inibem de intitular de populista de direita ou extrema direita. Como é que chegámos aí? Porque é os jornalistas não gostando dele, não conseguem viver sem ele? Audiências. Um "maluquinho" (salvo seja porque se há coisa que Ventura não é, é maluquinho apesar de não se poder dizer o mesmo de muitos dos que o rodeiam), dá muito mais audiências que um político cinzentão, a debitar o mesmo politiquês que já se debitava há 30 anos. Ainda para mais em 15 min.

O André vence qualquer debate, porque não é escrutinado nem pelos jornalistas nem pela população, porque se atreve a ir mais longe na demagogia que os políticos do costume e utiliza as mesmas frases de senso comum de um povo que foi mal-educado e que está tão saturado de políticos que só os quer ver em pânico a tentar reagir às bocas e às acusações de Ventura. Tenham elas fundamento ou não.
É nesse colete à prova de balas, que ele consegue simultaneamente dizer que o PSD é igual ao PS mas que ele quer governar em conjunto com eles, que já propôs o internamento compulsivo de pessoas com covid mas agora diz que todas as medidas representam um apartheid sanitário, ou que os deputados do CH nos Açores, que lhe desobedeceram e não acataram a ordem de romper o acordo com os restantes partidos, na verdade não lhe desobedeceram mas deram sim um "Murro na mesa" para conseguirem a implementação das suas propostas.


Nunca se consegue confrontar o líder do CH com uma incoerência porque ele responde que é uma evolução de pensamento e os seus apoiantes engolem. Não o podem relembrar do seu passado no PSD, porque ele responde que não tinha responsabilidades governativas, ainda que ele faça as mesmas acusações aos adversários quando estes muitas vezes também não as tinham. Não se consegue completar uma frase que ele note que não lhe vá ser proveitosa sem que interrompa rapidamente com perguntas retóricas.

O André não vence todos os debates porque eu já o vi perder um, mas não é fácil conseguir ultrapassar estes obstáculos que o tornam tão escorregadio. O único político que até hoje conseguiu a proeza, foi outro que talvez seja tão escorregadio quanto o presidente do CHEGA! : falo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. São várias as pessoas que se cruzaram com o Marcelo, ao longo dos anos, que mais tarde o relembram com uma figura reptiliana, de grande perspicácia e capacidade de desferir golpes implacáveis nas costas.
Pouco interessam esses atributos para um debate, mas deve ser o único político na atualidade que consegue, tanto numa entrevista como num debate, manter um raciocínio assertivo e coerente apesar de estar a ser interrompido, como se nada fosse. Aliás, quem o tenta interromper normalmente acaba por desistir. Esse foi o grande trunfo no debate com Ventura, é que este não o conseguia parar.


Por falar em debates, hoje há três e eu fico-me por aqui. Para quem não tenha tempo de ver os debates no momento em que dão e não esteja para saltar de canal em canal e andar para trás, a RTP Play disponibiliza todos os debates, de todos os canais, no site.

PS: Feliz Ano Novo!




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