Quem é de Setúbal e anda pelas redes sociais, está familiarizado com os 40 grupos de Facebook que existem, alegadamente para e sobre Setúbal.
A quantidade de grupos é muita porque as motivações também são distintas: há grupos criados por gente do PS, do PSD, do PCP e do Bloco. Depois há outros criados por coligação, em que os administradores são PS+PSD, PS+PCP, PS+PCP+Bloco, etc. Também há dos anti-política, dos vitorianos, dos que se fingem imparciais em todos os assuntos, enfim, há mesmo para todos os gostos. Mas há um género de publicação que atravessa todos estes grupos com o mesmo sucesso. São aqueles posts a que chamo, "post violino". Este género caracteriza-se pela masturbação do alegado orgulho em ser de Setúbal, com recurso a desmedidos elogios, ainda que soem ao mais falso possível.
Têm centenas, às vezes quase milhares de "gostos" e quase o mesmo número de partilhas. Os autores são também aclamados pela excelência dos seus textos, candidatos a Prémio Nobel da Graxa, perdão, da Literatura.
"setubalense é também um sentimento de que ela nos pertence e um verdadeiro setubalense defende-a sempre com unhas e dentes. E claro é do Vitória de Setúbal."
"De repente tudo menciona as ofertas turísticas, as praias paradisíacas e riqueza cultural que Setúbal oferece, o nosso Vitória de Setúbal…"
"São as pessoas desta cidade, que me apaixonam todos os dias, a sua vontade de viver e desfrutar a vida e de tudo o que ela tem para oferecer."
Estas pérolas sadinas, felizmente estão quase todas compiladas no mesmo sítio. Há muitas mais mas não quero revelar já tudo, fica para o leitor descobrir.
Estas pessoas descobriram uma fórmula para ter sempre sucesso naquilo que escrevem, e fazem-no sem conta, peso ou medida.
Quem lê estas crónicas, mesmo que seja de Setúbal, fica a achar que algo de errado não está certo consigo próprio. Estes concidadãos, pelo que nos dão a entender, comem sandes de choco ao pequeno almoço acompanhado de moscatel. Para os filhos, desde pequenos que lhes servem umas papas de sardinha e ensinam o hino do Vitória.
Depois, aquando dos seus 5/6 anos, tentam perceber se os putos falam com sotaque, se não o fizerem contratam um explicador de charroco pois seria uma desonra não falarem assim... Aos 18 anos, se ainda não tiverem carta de barco, são expulsos da família.
Estes verdadeiros setubalenses, têm casa forrada a verde e decorada com pinturas da arrábida entre os golfinhos em cerâmica que compram todo os meses na Feira de Velharias.
Os outros, ou se contentam em aplaudir, concordar e partilhar ou, não sendo como os protagonistas dos textos devem remeter-se à sua insignificância pois apenas só são setubalenses porque o acaso os fez nascer no hospital S.Bernardo.
Estas crónicas amplamente divulgadas no Facebook (particularmente), para mim, são enjoativas e não há pachorra para estas tangas do amor a Setúbal. Acho que aquelas rotinas que descrevem são tão verosímeis quanto a imparcialidade jornalística do jornal "Setubalense" ou quanto o comunismo da presidente da Câmara.
E quanto a mim, "ser setubalense" é o que eu quiser, se é que "ser setubalense" significa alguma coisa. Ninguém tem de ser vitoriano, comer choco e dizer que Setúbal é a sua cidade preferida para ser um "verdadeiro setubalense".
Podem colocar os atestados de autenticidade setubalense no sítio onde colocam a espinha quando escrevem estes textos.