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The Pólis

Geração Ghost

Dia internacional da juventude

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Quem tiver andado distraído relativamente a novas terminologias utilizadas pelos jovens, pode não estar familizarizado com o termo ghost ou ghosting. Simplificando a explicação, trata-se de ignorar propositadamente alguém, até que esse alguém desista de tentar interpelar-nos.

Vamos a caminho de mais uma crise económica gravíssima, tudo indica. Para muitos, apenas mais uma, mas para uma franja da nossa sociedade em particular, este "mais uma" tem um outro peso. Não tendo qualquer pretensiosimo em querer escrever um texto em representação dos jovens, porque nem estou mandatado para isso (como se isso fosse possível), nem teria essa capacidade por múltiplos factores que só para os elencar seria necessário não um texto, mas vários. Escrevo então enquanto pertencente a esta faixa etária, a que airosamente a sociedade chama de jovens.

Para muitos outros como eu, confirmando-se esta pesadíssima crise, é a segunda que experienciamos em menos de 15 anos. Certo é que não é o mesmo que viver um período de guerra ou que viver em período ditatorial, mas também não me parece correto que se comparem situações. Esta é a nossa realidade, e a aspereza do que não vivemos não a amacia, por muito que o queiram.

Os jovens são atualmente "a geração mais bem informada e preparada de sempre", "o futuro do país" , a "esperança do mundo" e outros clichês românticos. Porém quando o cenário não está para romantismos, como por exemplo quando a abstenção sobe ou agora mais recentemente, quando os números de infetados pelo covid-19 sobem, a culpa recai nos suspeitos do costume, os jovens.

O clichê mais paradoxal, na minha opinião, é o de considerarem que os jovens são os mais bem preparados e informados de sempre. Porque quando um jovem chega a um lugar de responsabilidade, na política, na ciência, na gestão ou em qualquer outra área, todos apontam para a sua idade como factor predominante para avaliar e prever a sua alegada incapacidade. São bem preparados e muitíssimo bem informados, mas não se estiquem.

Quanto ao ónus de nos considerarem o futuro e a esperança da nação, é francamente a base de nos tornarmos a geração ghost. Quando chega o momento de demonstrarem o quão nos consideram realmente, dão-nos ghost. Somos muito importantes, mas oferecem-nos maioritariamente condições precárias de trabalho, ou estágios porque quando se trata de uma pessoa com menos de 30 anos não há qualquer pudor em lhe oferecer magnanimamente um pouco de "experiência". Uns mesinhos a trabalhar sem receber nunca fizeram mal a ninguém. Mais tarde chegam as surpreendentes estatísticas de que os jovens não saem de casa dos pais - imagine-se porque será.

Somos o futuro, mas não gostam de nos consultar. Um mero orgão consultivo como o Conselho Municipal de Juventude, ainda continua a ser recusado em muitos munícipios pelo país fora. Já lá vão 10 anos desde a sua obrigatoriedade.

Consideram-nos a esperança, mas continuamos com um sistema de ensino praticamente igual há décadas. Explicam-nos tudo, menos o funcionamento das instituições que nos vão marcar o resto da vida - bancos, finanças, segurança social, câmaras municipais etc.

Facilitam-nos o acesso ao ensino superior, com bolsas (poucas ainda) e reduções de propinas, mas não há uma comunicação eficaz com o mercado de trabalho para que se evitem licenciaturas em desemprego. Investimos tempo e dinheiro em sonhos que, quem tem responsabilidades executivas já sabe à partida, que não se vão cumprir. Pelo menos não em Portugal.

Saímos à rua para nos manifestarmos, pedimos para falar, para ser ouvidos. Sorriem, tiram fotos e elogiam. E a seguir? Ghost.

Podemos dar de barato que esta é a geração mais bem preparada e informada de sempre, no entanto, e seguindo esse raciocínio, esta também é a geração onde é mais notória a ausência de planeamento para a juventude por parte dos governantes e em que é mais ofensiva a condescêndencia com que a sociedade trata os jovens.

Ficaremos marcados por termos sido a geração na qual mais recairam os erros do passado, a geração mas encurralada em falta de soluções e onde as expetativas, nossas e dos outros, mais se tornaram em sonhos não concretizados.

Geração mais bem preparada, informada e ignorada. Assim é que ficaria completa a descrição.

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