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The Pólis

Desde que os dois novos partidos, Iniciativa Liberal (IL) e CHEGA! (CH) apareceram, que se tentam encontrar tanto os motivos para terem aparecido como as suas principais fontes de importação de militantes e apoiantes.

Um dos principais apontados é sempre o CDS-PP, ainda que já esteja devidamente provado que, principalmente no caso do CH, vão beber a várias fontes. E ainda que também seja um exercício mais dado à imaginação, pois que eu saiba ainda não existem fichas de militância em que perguntam pelo ex-partido.
Essa ideia está ligada ao facto dos centristas não conseguirem performances animadoras nas sondagens. Vale o que vale, não é o assunto que me leva a escrever este texto.

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O que me traz aqui hoje é o sub-aproveitamento que o CDS fez da existência destes dois partidos, que se nota ainda mais agora em período de campanha.
Francisco Rodrigues dos Santos (FRS) podia ter aproveitado para trazer ao de cima alguma diferenças relevantes entre o que significa ser/estar no CDS e o que representa ser/estar na IL ou no CH. Ou por outra, até o tentou fazer, mas creio que da forma menos conseguida (sem ofensa para os novos outdoors).

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O ideal, como é óbvio, é que os partidos definam as suas mensagens com muita antecedência face às eleições, que aproveitem esse tempo para ir incutindo ideias e propostas e, no final, o culminar desse trabalho seja uma campanha focada na consolidação e reforço de mensagens chave. Nenhum partido faz isto, acham todos que é em 30 dias que vão reunir com meio mundo e convencer as pessoas que o seu projeto é o melhor.
É como recolher um frasco de areia da nossa praia favorita e ir à praia ao lado espalhá-la no chão e pedir as pessoas para que a pisem e percebam que a nossa praia é a melhor. Enfim, adiante.

O que ainda assim o CDS podia ter feito, porque era possível, era explicar aos poucos que atentam aos micro debates televisivos e aos não tão micro debates radiofónicos, porque é que, ao contrário do que os pensadores (comentadores) oficiais do reino vaticinam, o aparecimento de 2 partidos à direita, não é uma sentença de morte para o histórico PP.

O Centro Democrático Social - Partido Popular, é um partido que abrange, ideologicamente, o espectro que vai do centro à direita (Centro > Centro-Direita > Direita ). É uma organização política sobre a qual, após o 25 de abril, ficou com o ónus de representar toda a Direita, após a proibição de todos os partidos desse espectro. A sua existência, ao início, não foi pacífica e foi preciso bastante resiliência para chegar aos dias de hoje.

O que é certo, e o que se tornou numa imagem de marca do partido, foi a qualidade que acrescentava à intervenção política. Por trazer propostas e protagonistas que elevavam a fasquia. Isso é unânimemente reconhecido entre eleitores e entre políticos. Não significa concordar com as posições do partido, mas sim reconhecer-lhe uma prática de valor, naturalmente conduzida por intervenientes que demonstravam coerência, habilidade e respeito entre pares.

Ora isso não era obra do acaso, e eu direi que tem um ingrediente fundamental:

A cooperação, o equilíbrio e produtividade que advém quando juntamos à mesma mesa os três principais pilares ideológicos do partido - o liberalismo, o conservadorismo e a democracia-cristã.

Os 3, conjuntamente, é que tornaram o projeto "CDS" num projeto de centro à direita equilibrado. Nem demasiado avesso à mudança, nem apenas interessado em cifrões, nem com pretensão de se tornar num partido clerical. A coexistência destas 3 artérias, a bombear para o objetivo de melhorar consistentemente o país, permite que nenhuma se sobreponha.

E para que é que isto interessa?
Para refletir sobre se realmente o CDS-PP ficou ou não amputado com o aparecimento da Iniciativa Liberal e do CHEGA!.

Reparem que é perfeitamente legítimo que FRS queira construir uma ideia de que o CDS é um partido conservador apenas. Um caminho que eu não aconselharia, mas legítimo. Ele e a sua Direção, com os devido aconselhamentos (ou não), acharam que o CDS tinha de encontrar um novo espaço, um novo lugar, entre a IL e o CH.
Como uns dão a ideia de que são muito modernos e inovadores e os outros de ser a direita do bota-abaixo, do protesto, achou FRS que o novo papel dos centristas é o de se asssumirem como "Direita Certa", "Direita Tradicional" ou "Direita Clássica" como diz Telmo Correia.

Na minha humilde opinião, a narrativa que este partido devia ter adotado, até porque é aquela que me parece fazer mais sentido tendo em conta não só o percurso histórico em Portugal, mas também a família política europeia a que pertence, era a de chamarem a si valores que são naturalmente apreciados na nossa cultura: serenidade, sensatez, equilíbrio, humildade.
Ou seja, afirmar-se como o centro da Direita.

Porque é indiscutível que os portugueses, e podemos mesmo dizer o próprio ser humano, tem uma atração natural por pontos de equilíbrio. Gosta de estar associado a valores de referência. "No meio está a virtude", porque o meio assume-se como capaz de absorver o melhor do que o rodeia.

A forma correta de o CDS recuperar estatuto, é tornando-se no ponto de encontro dos valores que os simpatizantes e demais eleitores afectos à Direita, aspiram ver aplicados nas suas vidas. A voz da razão, do bom senso. O adulto na sala que ouve, pensa e depois fala.

Nesse sentido será útil a este partido afirmar que a IL e o CH não o prejudicaram, mas sim criaram mais uma peneira, mais um apuramento que ajudou novamente ao reequilibrio do CDS. Explicado de outra forma, a mensagem em extended version seria algo como:

Quem apenas via cifrões à frente, quem fazia tábua rasa dos valores e tradições que são abundantes numa nação com 900 anos de história. Quem tem uma forma de ver o mundo no qual o dinheiro tudo paga, tudo substitui, encontrou um lugar confortável na IL. A Direita que prescinde de qualquer moral e que não se incomoda com a destruição de valores humanos por um "preço justo", não é a Direita que o CDS quis alguma vez ser. E essa é uma forma de estar que devem justificar o porquê de não partilharem dela. 

Devem explicar que não vêem os vícios destruidores, os dramas e problemas das pessoas como oportunidades, e que por isso projectam um Estado que renuncia  a qualquer cêntimo proveniente da droga ou da prostituição. Que é preferível investir na prevenção destes problemas e na ajuda a quem quer recuperar as suas vidas. Um filho que mata os pais para os roubar, motivado pelo vício, não é um possível cliente de uma venda legalizada de droga. É alguém a quem a droga levou à rutura total com a sociedade em que vive.
Um ser humano que vive da exploração sexual de outros seres humanos não é um possível empresário.  E não, a  maioria das pessoas que se prostituem não o fazem por gosto.

Aqueles que procuram explorar as frustrações da população, canalizando-as para bodes expiatórios que não respondem. Aqueles que procuram ser ultramoralistas, que criam um ambiente de sharia (irónico não é?) tão grande que as propostas mais abjetas são ditas com naturalidade. Os que consideram que vale tudo na punição e que o braço armado do Estado não tem de prestar contas a ninguém, esses encontram um lugar confortável no CH.

A esses o CDS deve dizer que há uma diferença entre respeito e medo. Entre rigor e fiscalização em contraste com a generalização e a humilhação. Que a única coisa que liga estes dois novos partidos ao CDS é o desejo de contas certas no caso de um, e de justiça no caso do outro. Mas que ambas as bandeiras as foram buscar ao mais familiar partido do Centro Direita, e que fora dele fazem uma defesa hiperbolizada e disfuncional delas.

Um liberal sem a influência da democracia-cristã e do conservadorismo, torna-se a caricatura do capitalista sem coração. Um conservador com más companhias torna-se num populista sem soluções e apenas com críticas para apresentar.  Apenas juntos criam valor e isso só se encontra no CDS, se este se souber auto-aproveitar e relembrar que sempre foi no centro da Direita que se defendeu a liberdade, a responsabilidade, a diversidade e a humanização.

Devem demonstrar que, sem exageros nem fixações, continuam a ser os que contrapõem à burocracia, à política de remendos, ao ludibriar com a "gratuitidade", da Esquerda, um projeto de responsabilização, prevenção, transparência e eficácia. Que não se fazem omoletes sem ovos e que Roma não se faz num dia. Que na moderação e na capacidade de escutar e de apostar em nós é que se leva um país a bom porto.

PS: Hoje há CDS vs CHEGA! em debate, confesso-me curioso.

O PSD fez o que era expectável. Durante esta semana ficámos a saber que a Direção do PSD chumbou a coligação pré-eleitoral com o CDS. Pelo que veicula na comunicação social, Rui Rio não se pronunciou e deixou a sua Comissão Política Nacional decicidir sem influência do presidente.


Secalhar alguém lê esta informação e pensa que é um gesto muito democrático de Rui Rio. Aliás até pode ter sido esse o objetivo de Rui Rio ao passar esta informação para a comunicação social: enganar alguém mais distraído.


No entanto, lamento desiludir, mas Rui Rio não se pronunciou porque já sabia que decisão seria tomada pela CPN e possivelmente por toda ela, tendo os 3 votos a favor sido feitos para a notícia não fosse a unanimidade contra o CDS - não esquecer que podem ainda precisar do partido de Francisco Rodrigues dos Santos.

Percebo o argumento de alguns, do PSD e do CDS, de que os seus partido precisam de ir sozinhos para mostrarem o que valem. Porém, o que espero de líderes políticos do espectro não socialista, após 6 anos de governação ininterrupta do Partido Socialista, e com tudo a apontar para mais 4, é pragmatismo.
E este pragmatismo passa por ter a humildade e a inteligência de ver que há uma marca política de centro-direita que funciona em Portugal. Essa marca chama-se PSD/CDS, venceu as duas últimas eleições legislativas e conseguiu muito bons resultados nestas últimas autárquicas, até mesmo no alentejo.

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O pragmatismo de reerguer esta marca, dota-la das ferramentas e dos recursos humanos necessários para relembrar aos eleitores que esta é uma marca de confiança, de boa governação e de boa aceitação internacional. Que é a marca não socialista por excelência, em que milhares de portugueses confiaram localmente, e que é sempre chamada para resolver os problemas gravíssimos que são deixados nas secretárias dos ministérios quando se deixam por lá muito tempo os socialistas e as suas famílias.

Este modo de ver a política, como um serviço e sobretudo agora como uma missão de salvação do país (digo mesmo salvaçao, pois basta lermos todos os indicadores de crescimento para ver que Portugal é o país que mais afunda na UE, e em que os cidadãos vivem cada vez pior) de uma rota de desastre irrecuperável seria o que se exige num momento destes. Este seria o momento para o fazer. Não foi o entendimento do PSD. Porquê?

Porque como bom partido de caciques e de jogo político pelo poder, o PSD não consegue limpar as remelas do maquiavelismo. Não seria grave se estivessem a fazê-lo contra a Geringonça, mas optam por fazê-lo contra Portugal. Tal como o escorpião, que não consegue recusar a sua natureza, também o PSD não consegue evitar de ser traiçoeiro e, fazendo uso das sondagens que Rui Rio tanto critica, acha que é o momento ideal para se descartar do CDS, considerando que desse modo lhe dão a estocada final.

Este é um PSD que se demonstra pouco recomendável. Na incerteza e na avaliação de cenários possíveis, Rui Rio e os seus correligionários preferiram a probabilidade de matar o CDS, que a probabilidade de com o CDS, afastar António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa do poder.

Todos iremos sofrer as consequências desta decisão. Até Rui Rio.

A palavra "eurodeputado" sempre me trouxe uma carga diferente, como se fosse um super deputado.
Ainda que os nossos eurodeputados de "super", à primeira vista possam ter apenas o vencimento, se comparados com grande parte dos portugueses. Ou talvez o super até se adequasse quando relativo ao desconhecimento que a maioria de nós tem sobre o que fazem em Bruxelas - atenção aos mais precipitados, pois dizer que há desconhecimento sobre o que fazem é (muito) diferente de dizer que não fazem nada.

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No último par de semanas, anunciaram intenção de candidatura às presidências do CDS e PSD, respetivamente e por ordem cronológica, Nuno Melo e Paulo Rangel. Os veteranos eurodeputados, querem voltar de vez e apontam para a liderança das suas casas.

Nuno Melo já putativo candidato à vários anos, assume finalmente o "desígnio" que muitos antecipavam. Paulo Rangel, que já tinha tentado vencer a presidência do PSD, retorna dez anos depois, com mais capital político e muito mais tempo de presença na comunicação social.

São ambos personagens políticas mais próximas dos duas últimas figuras que colocaram PSD e CDS na governação do país,Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Ainda que essa aproximação seja muito mais nítida em Nuno Melo que em Paulo Rangel, se tivermos em conta que este último perdeu a sua primeira incursão à liderança do partido precisamente para Pedro Passos Coelho. No entanto, tal como Melo reúne apoios de "portistas" , Rangel agrega os "passistas".

Se isto só por si conta como vantagem ou desvantagem para estes candidatos, é difícil de saber, mas que pode conquistar muitos saudosos da PáF, pode.
No CDS, caso a vitória sorria a Nuno Melo, nunca chegaremos a saber que valor tem Francisco Rodrigues dos Santos em Legislativas, e se seria capaz de obter um resultado melhor que Assunção Cristas (mesmo que em coligação, como parece ser a intenção) sendo que essa é uma das principais críticas dos seus apoiantes à antecessora de "Chicão". 
No PSD, em caso de vitória do challenger Paulo Rangel, este terá daí a pouco tempo, o momento para demonstrar se valeu ou não a pena a aposta dos seus correligonários na mudança de presidência, tendo que fazer melhor que Rui Rio nas eleições que acontecem dentro de pouco mais de um ano.

Caso tudo fique na mesma, e a dupla Francisco Rodrigues dos Santos/Rui Rio sobreviva às eleições internas dos dois históricos partidos, ficarão ambos com mais uma "medalha" de combate interno (a contagem ficará em duas e meia para "Chicão, três para Rio), com mais dois potenciais predadores das suas presidências postos de lado, pelo menos temporariamente. Teremos, nesse caso, em 2023, a estreia de Rodrigues dos Santos em legislativas enquanto presidente do partido e aquela que será certamente a última eleição de Rui Rio à frente do PSD, caso perca novamente as eleições - "fool me once, shame on you, fool me twice, shame on me.”

Seja como for, os próximos dois meses são decisivos para os dois partidos, com os seus militantes a serem chamados a pronunciar-se sobre quem querem que enfrente António Costa em 2023. Serão também, certamente, momentos interessantíssimos de acompanhar para todos os "viciados" em política.

"O que vai ser do CDS"

artigo de Lourenço Pereira Coutinho

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Fica a sugestão de artigo, pequeno mas assertivo, sobre o histórico CDS. Hoje, no Expresso:

 

Não é a primeira vez que o escrevo neste espaço: custa-me ver o CDS reduzido a um partido inexpressivo, que não consegue passar a mensagem e que só é noticia pelas desavenças internas. Quem observe à distância, como é o meu caso, apenas vislumbra algo em desagregação e que corre o risco de desaparecer.

Não é demais recordar que o CDS foi o único partido que, em 1976, votou contra a visão marxista da primeira versão da nossa constituição e que, depois, prestou um contributo decisivo para a afirmação de um regime verdadeiramente plural e civilista. A partir de 1979, e com exceção do tempo cavaquista, o CDS fez sempre parte das soluções governativas de direita, e os seus quadros, a maioria de reconhecido mérito, contribuíram de forma valiosa para a saúde da nossa democracia.

O CDS não merece pois o que está a acontecer. Esta é sem dúvida a sua crise mais preocupante, pior até que a vivida durante as maiorias cavaquistas. Então, contava com deputados da dimensão de Nogueira de Brito, Lobo Xavier e outros. Podia ser o partido do táxi, mas este transportava políticos de grande qualidade.

A crise vivida entre 1987-1992 foi porém de magnitude, pois as maiorias absolutas do PSD podiam ter aniquilado o CDS. Tal não aconteceu porque a dupla Manuel Monteiro/Paulo Portas (este então ainda fora da política partidária) vincou, a partir de 1992, um discurso diferenciador, com laivos de populismo, que atraiu os descontentes com o cavaquismo, na altura já muitos, e garantiu um bom resultado nas eleições de 1995.

A partir de então, o partido manteve políticos de valor mas, gradualmente, tornou-se dependente de um único homem: Paulo Portas. Este teve o mérito de reafirmar o CDS como partido imprescindível mas o demérito de secar tudo o que não girava à sua volta. A diversidade que caracterizava o CDS - democratas-cristãos; conservadores e liberais, esbateu-se assim no portismo. O atual drama dos centristas reside precisamente na sua incapacidade de superar a orfandade de Paulo Portas, agora no comentário televisivo e a fazer o tirocínio para uma provável candidatura à presidência da república.

Com as suas muitas qualidades e vários defeitos (bem contrabalançados entre 2011-15 pela firmeza ponderada de Passos Coelho) Paulo Portas é para mim o político de direita melhor preparado e mais fazedor desde Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Sabe definir uma estratégia diferenciadora e como lá chegar, é carismático, pragmático e um comunicador nato. Ora Francisco Rodrigues dos Santos é o contrário disto tudo. A falta de carisma e de flexibilidade tática impede-o de unir o partido e de seduzir um eleitorado agora com mais escolha.

Pior, a sua estratégia não passa para a opinião pública: com esta liderança, o partido é democrata-cristão, conservador ou popular? E quais as diferenças entre ser popular e populista? Que estratégia de alianças? Qual o posicionamento face ao PSD? - com Rui Rio estacionado ao centro, o CDS perdeu uma oportunidade de ouro para captar eleitorado de direita - E que propostas diferenciadoras, como convencer que o CDS continua a ser indispensável? Acredito que Francisco Rodrigues dos Santos tenha respostas para tudo isto, o problema é a sua incapacidade de as explicar e de as pôr em prática. Atualmente, o CDS conta muito pouco.

O desconforto de Nuno Melo a fazer campanha para as autárquicas junto a Francisco Rodrigues dos Santos foi notoriamente constrangedor e revelador. Simbolicamente, espelha a fratura irreconciliável entre a elite portista e a apregoada linha popular de Rodrigues dos Santos. Curiosamente, a bandeira popular foi precisamente a que Paulo Portas usou para se afirmar no CDS. Enquanto a elite portista inspira-se no politico grave do século XXI - ministro, vice primeiro ministro e mais que provável candidato à presidência da República - Rodrigues dos Santos parece estar a trilhar os mesmos caminhos do “Paulinho das feiras”. O que vai ser então do CDS? Um portismo sem Portas? Ou, então, um híbrido entre o PP do “Paulinho das feiras” e o populismo de Ventura? Por enquanto, o partido continua órfão, e claramente na sombra.

 

 

O Partido Socialista (PS) apresentou no seu último congresso, através do secretário-geral e primeiro-ministro António Costa, propostas de apoio à natalidade e à juventude: nomeadamente o aumento das creches e incremento de benefícios no IRS Jovem.
Acontece que estas mesmas propostas já tinham sido apresentadas pelos seus rivais directos, o PSD, de Rui Rio, e uma delas o PS até votou contra (IRS Jovem).
Os socialistas que têm trabalhado na retórica de que o PSD é um partido sem ideias, sem capacidade para se apresentar como alternativa, arrisca e joga novamente com a memória curta dos portugueses. O PSD não tinha ideias, mas as poucas que tinha ao que parece era tão más que o PS não hesitou em anexá-las ao seu programa.
A surfar nas sondagens, a prometer mundos e fundos, António Costa pega num velho truque político para continuar a cilindrar o PSD - ficar-lhes com as proposta e fazer ouvidos de mercador aos gritos de "eu disse primeiro".

Daqui em diante, o PS defenderá que a proposta é sua e, quanto muito, dirá "se concordam e até dizem que já apresentaram, votem a favor" quando se der o momento de as apresentar no Parlamento.

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No CDS, acontece algo parecido. O presidente do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, reagiu aos anúncios de António Costa, dado que a natalidade é um dos temas mais ligados ao partido desde sempre. Disse que eram "migalhas" e, segundo o Público está a preparar um pacote de medidas para apresentar, afetas à natalidade. Ora também aqui, houve um repescar. "Chicão" que tem, tal como os seus apoiantes, calcado na tecla de "o tempo da Assunção arruinou o CDS",  sabe-se já que inclui neste pacote que vai ser apresentado, uma boa dose de copy/paste das propostas anteriormente apresentadas por Cristas no Parlamento e chumbadas pela esquerda.

No entanto, o caso da réplica de propostas no CDS é muito menos grave, pois o que está dentro de casa é para consumo interno.

O CDS não sabe o que quer. O Conselho Nacional do CDS-PP, marcado por pressão de Adolfo Mesquita Nunes, terminou ontem já para lá das cinco da manhã. 

Foram quase 24 horas de discussão e debate sobre o estado do partido. No final, ficou tudo relativamente na mesma. 

Digo relativamente na mesma porque a moção de confiança de "Chicão" foi aprovada sim, mas com uma vantagem de apenas 30 votos. 

É pelo resultado da moção que declaro que os militantes centristas, ou pelo menos os que estavam mandatado para se pronunciar naquele órgão, estão às aranhas. 

Todos os dirigentes que usufruem de palco mediático, seja pelas funções que ainda desempenham como é caso dos deputados, seja por serem figuras destacadas do tempo da PaF, fizeram valer bem o seu ponto de vista: o partido está mal, a direção não tem imaginação para mais e Adolfo Mesquita Nunes pode ser a solução. 

Do outro lado, Francisco Rodrigues dos Santos teve o seu momento de "chefe", ao gosto da Direita, e dirigir-se aos adversários num tom áspero e irritado. A acompanhá-lo todo um eco de membros dos órgãos internos do CDS e demais conselheiros que o apoiaram no Congresso de Aveiro. A estratégia era apontar as falhas da Direção a que AMN pertenceu e fazer crer que mudar de presidente a meio de um mandato não era benéfico para o trabalho que se pretende ver realizado nas Autárquicas.

Acontece que, o argumento das Autárquicas servia ambos os grupos. Pois se uns diziam que um congresso eletivo seria prejudicial, os outros alegavam que não o realizar é que levaria o partido ao precipício. 

No final, nem "Chicão" conseguiu ser suficientemente convincente para conseguir uma verdadeira aprovação da sua moção de confiança, nem os mais reconhecidos membros do CDS foram suficientes para influenciar o voto dos conselheiros ao ponto de pedirem uma viragem no rumo. 

Francisco teve uma vitória pífia, um "num". Dentro do partido talvez tenha sido motivo de festejo para os seus, mas o que sobra, o que o país viu, foi um CDS-PP profundamente dividido, em que players fundamentais como Cecília Meireles ou Telmo Correia não acreditam no líder do partido e não se inibem de o dizer. 

O pior é que, no final, Francisco Rodrigues dos Santos declarou aos jornalistas que teve uma grande vitória, que o que lhe interessava era legitimar a sua liderança e que ouviu atentamente as críticas. 

Não legitimou a liderança, longe disso (até porque quase toda a sua direção já se demitiu) e ainda repetiu a mesma frase com que terminou o último Conselho Nacional. Desde esse até ao de ontem muito pouco mudou. Até quando irá dizer que ouve as críticas sem que mude absolutamente nada, só ele e quem o aguenta na presidência do partido o podem dizer. 

 

 

 

 

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No dia da memória das vítimas do Holocausto, tivemos, ironicamente, nas bocas de muita gente (que se interesse por política) o nome Adolfo.

Não o Adolfo do Holocausto, mas o Adolfo do CDS-PP. O ex-secretário de estado do Turismo escreveu um artigo no Observador, intitulado "Uma nova força para o CDS", um dia depois de se assinalar 1 ano de mandato de "Chicão" , em que parece anunciar a sua vontade de se candidatar a presidente do CDS.

Muitos viram isto como a possibilidade de ter um Adolfo a salvar o CDS do Holocausto político que atravessa, outros como mais uma enorme contribuição para esse mesmo Holocausto. A verdade é que a existir esta candidatura e a efetuarem-se as eleições antecipadas que Adolfo Mesquita Nunes (AMN) pede no seu artigo, pode ser um de dois: ou representará mais uma cisão, mais um cavar de trincheiras entre os militantes centristas ou funcionará como uma última injecção de adrenalina no histórico partido do Caldas.

Por um lado achei uma retirada brusca do tapete, dos pés de Francisco Rodrigues dos Santos (FRS), com uma série de demissões seguidas em poucos dias. Pareceram combinadas, ou enquadradas no momento em que AMN se lança para a candidatura e desafia o presidente do CDS-PP a marcar um congresso eletivo.

Entre essas demissões destacam-se a de Filipe Lobo Dávila, que já fez questão de explica no seu Facebook que a carta de demissão foi escrita muito antes do anúncio de Adolfo, e a de Raúl Almeida, conhecido amigo de AMN e que não explicou nada, pelo menos que me tenha apercebido.
O que é certo é que logo no artigo que serviu de tiro de partida para a candidatura de Adolfo, este avança vários nomes que, na sua opinião, necessitam de ser "recuperados" (entre aspas porque muitos estão no ativo). Nessa lista já consta o nome de Lobo Dávila. Coincidência? Aceito que sim.

Há também uma outra versão acerca das demissões e do momento de rutura da Direção de Chicão, que aponta como fator desencadeador para este momento, os problemas financeiros do partido.
Não tem sido propriamente segredo, já que até aquando da última vez que se batalhava pela presidência do CDS, batalha da qual FRS saiu vencedor, o estado das finanças do Caldas foi um dos temas quentes, com acusações de má gestão à Direção de Assunção Cristas.
Assim, diz-se, os vices de Chicão que se demitiram no dia da candidatura de AMN, fizeram-no não pelo anúncio do ex-secretário de Estado, mas porque este dia foi também coincidente com uma tentativa de capitalização do partido que saiu frustrada - Holocausto financeiro?.

Diga-se de passagem que não abona muito em favor de um partido de direita, ter tão pouco controlo na informação interna e especialmente quando esta afeta uma das suas principais bandeiras políticas. Falo do rigor financeiro.

GUERRA DE AUDIÊNCIAS e GUERRA DAS "BASES"

Desde que Adolfo Mesquita Nunes anunciou a sua candidatua, que o CDS tem saltado para as primeiras páginas de jornais, tem sido tema de muitos artigos de opinião e é notório um combate nas redes sociais, pela audiência dos militantes mas também uma medição pública de notoriedade.
Aos mais desatentos, peço que atentem para quando FRS fizer algum "live" no Facebook, e reparem que assim que termina, Adolfo fará outro.
Do que pude constatar até agora, Mesquita Nunes leva vantagem na audiência das redes sociais. Diria que isso é fruto da sua notoriedade mas também por ser uma forma de comunicação a que tem recorrido frequentemente há vários meses, o que o levou a fidelizar uma audiência.

IMG_20210205_175922.jpgAinda nas redes sociais, tem sido notória a agitação entre as bases, com concelhias e distritais a precipitarem-se nas juras de amor ao líder ou nos incentivos ao challenger. Por ser a minha terra natal, naturalmente estou mais atento às estruturas partidárias daqui, e onde tem sido notório o apoio de algumas concelhias e da distrital do CDS em Setúbal, ao atual presidente.

No entanto já me deparei também com grupos de apoio a Adolfo Mesquita Nunes e a Francisco Rodrigues dos Santos, criados por militantes anónimos, ou pelo menos que não reconheço
O Facebook tem sido a rede mais quente, onde se podem encontrar mais comentários de ataque e contra ataque, e no qual me deparei com uma colisão de "notáveis", neste caso Francisco Mendes da Silva, a criticar publicamente um post de Joana Bento Rodrigues (não tão notável mas herdeira do movimento de Abel Matos Santos, o psicológo que curava homossexuais). A visada refere no seu post que o partido deve livrar-se dos liberais, Francisco Mendes da Silva repudia essa atitude que considera ser destrutiva para o partido.

Na comunicação social, tal como disse, o CDS tem sido tema quente também, com notícias diárias acerca de demissões ou reportagens sobre o challenger Adolfo Mesquita Nunes. Os espaços de comentário também se tornaram num campo de batalha dos centristas, que têm aproveitado para enviar recados. Os apoiantes de Adolfo largam bombas opinativas à presidência de FRS e vice versa. Ribeiro e Castro tem sido um dos destacados neste combate virtual, tomando as dores de Francisco, pois reconhece-se no papel deste aquando das movimentações de Paulo Portas para o retirar da presidência do partido. Ribeiro e Castro considera que o desafio de Adolfo se trata de mais uma "golpada".


UM PARTIDO DE DIREITA QUE NÃO GOSTA DE COMPETIÇÃO?


O CDS-PP atravessa um momento muito difícil, com muitas dificuldades financeiras, dificuldades de afirmação no espaço mediático e dificuldades em demonstrar aos eleitores que continua a ser fulcral para o espectro centro-direita português.

Eu considero que este é um partido fundamental para a nossa democracia e que é urgente que se reencontre. Não acredito em direitas histéricas, que funcionam como seitas de evangélicos e não apresentam soluções para nada, como é o caso do Chega. Não acredito em iniciativas de riquinhos,  capitalistas selvagens com tiques de superioridade por se considerarem cosmopolitas iluminados, que é o que para mim representa a IL.

Penso que o CDS reunia e ainda pode continuar a reunir o equilíbrio saudável da direita, tal e qual o que acontece na Alemanha, na Áustria ou no Reino Unido, onde partidos que partilham da mesma ideologia do CDS-PP são governo e, no caso da Alemanha, o trabalho é reconhecido internacionalmente, pela positiva. Aliás, cruzei-me há pouco tempo com uma citação partilhada pela página de Instagram da Juventude Popular de Setúbal, da Chanceller Angela Merkel em que esta assume ser por vezes liberal, por vezes conservadora e por vezes democrata-cristã. É esta partilha de valores funciona e não a sua divisão.

Daí que me parece que os centristas cometem o erro ao não terem capacidade de se distanciar dos seus egos, de se distanciar de líderes e de olharem para o partido como um tudo, avaliando: "O que é o melhor para o partido neste momento?"
Prosseguir com o trabalho que tem sido efetuado pelo Francisco Rodrigues dos Santos, ou assumir a sua inviabilidade e arriscar rapidamente noutro projeto, neste caso apresentado por Adolfo Mesquita Nunes.
Devem insistir com a Direção de FRS, defendendo-o e cerrando fileiras contra os apoiantes de Adolfo ou pressioná-lo a fazer algo de diferente já que agora tem competição interna?

Pelo que se tem visto, os militantes andam confusos, nervosos e vão agir de cabeça quente preparando uma "luta" entre democratas-cristão e liberais.
Repare-se que no início do mandato Chicão era tido como um líder conservador. Agora ao que parece é o expoente máximo da democracia-cristã. Já o Adolfo, como tem boas relações com membros da IL, é visto como um demónio que irá tornar o CDS numa segunda iniciativa liberal. O que é certo é que só mesmo no CDS é que se considera AMN um perigoso liberal. Se assim fosse, duvido muito que se tivesse aguentado tantos anos no partido.

Por incrível que pareça, o partido centrista está a despender imensa energia, de cabeça enfiada no rabo, e a ver problemas onde não existem.
Um partido capitalista, de direita, que defende que a competitividade é o motor da criação de riqueza não pode achar que o mesmo não funciona para dentro do partido. São comunistas internamente e capitalistas externamente?

A competição é boa, é desejável, está a colocar o CDS novamente no centro mediático (por muito supérfluo que pareça também é importante) e devia ser recebida com alegria por todos os militantes daquele partido. Se o Cristiano Ronaldo não se superasse diariamente, não faltariam excelentes jogadores para ocupar o seu lugar de melhor do mundo. 

Ou o atual líder se empenha mais ou a competição engole-o. É o mercado.



Ontem o presidente do CDS-PP decidiu ir ter com os manifestantes do movimento "a Pão e água", que se instalaram em frente à Assembleia da República há dias, e que alegadamente estão em greve de fome.

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Sobre o episódio não há, na minha opinião, muito a dizer. Um representante de um partido contactou com população descontente. Contado assim, qualquer pessoa poderá ter um de dois pensamentos imediatos: 1 - se os manifestantes queriam falar com alguém com responsabiliade política, tiveram ali uma oportunidade. O pólítico fez o que era suposto e foi ouvir as suas justas reclamações. 2 - o político quer aproveitar a manifestação para retirar dividendos políticos, "pontos" junto do eleitorado (ainda para mais vem do partido que aparece sempre mais prejudicado nas oraculares sondagens).

Eu tenho ambos, misturados, porque acho que é o mais sensato. É óbvio que qualque político que vá falar com a população, ainda para mais população descontente com o partido adversário, pretende ganhar pontos com isso. E não é igualmente óbvio que os políticos têm (idealmente) obrigação de nos ouvir?

Houve quem achasse muita graça, e até criticasse o líder do CDS, por ter tentado falar com os manifestantes e Ljubomir tê-lo aconselhado a parar de falar em partidos ou corria o risco de ser expulso.

Portanto, ignorando as intenções estratégicas das críticas de alguns dirigentes partidários, parece que há gente que prefere políticos que ganham pontos junto do eleitorado sem contactar com este.
E se formos atrás das sondagens, instrumento pelo qual nutro algum desprezo, quase que comprovamos esta tendência. É surpreendente que por exemplo, um partido como o PAN suba nas sondagens, sem nunca sairem dos gabinetes. Sem nunca contactarem com população. Fazendo política apenas para os lisboetas.
É surpreendente que Rui Rio e o PSD se aguentem há tanto tempo na melhor posição das sondagens, sem se mexerem, fazendo política no Twitter.
Em sentido contrário, o líder do CDS, que vai falar com os manifestantes, ou que tem percorrido o país em contacto com a população, é o mais prejudicado em sondagens.

Mas recuperando o foco no episódio da manifestação, reprovo o discurso mal preparado para os manifestantes, reprovo a notória falta de pragmatismo e deficiente assessoria do centrista, pois só isso justifica a indumentária tão desajustada ao momento - não te apresentas junto de gente cansada, frustrada e revoltada, de fatinho aprumado e esperas que alguém se identifique contigo.
Quanto isto, se me mencionarem, alinho nas críticas.

Já relativamente à atitude, só podemos reconhecer-lhe a coragem e saber ver que foi o único representante partidário a deslocar-se ao local para conversar com estes manifestantes. Mal ou bem, foi o mais próximo que estas pessoas estiveram do poder central, e não souberam aproveitar.

Ljubomir preferiu comportar-se como chefe da tribo e fazer uma exibição de poder alicerçado na sua notoriedade e nas dezenas de telemóveis que registaram o momento: "Meu querido, não sei qual é o teu partido, mas se voltas a falar em partidos convido-te a saires".

Ljubomir-Stanisic-da-raspanete-a-lider-do-CDS-PP-2

 



Com a simpatia forçada que não deixou esconder a sua arrogância, Ljubomir e os manifestantes que ali se encontravam, deram mote aos partidos para brincarem com o assunto ao invés de discutirem os problemas que supostamente ali se reivindicavam.

Fica a dúvida sobre o que afinal querem aquelas pessoas que se manifestam em frente à Assembleia da República, queixando-se de que ninguém fala com eles, mas que desprezam e repudiam os partidos quando estes vão ao seu encontro.



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