Debate Autárquicas Setúbal na RTP
A prestação dos candidatos à lupa
Já vou com algum delay, mas não podia evitar de deixar a minha pequena análise à prestação dos candidatos à Câmara Municipal da minha terra, Setúbal.
André Martins (CDU)
Mostrou-se muito pouco à vontade, com uma postura corporal estranha, quase autista. Praticamente só lhe vimos as mãos quando quis espingardar com o seu principal rival, Fernando José. Esconder as mãos o tempo todo enquanto se fala, especialmente num debate, não é um bom sinal de linguagem corporal. Para além de revelar pouco à vontade, demonstra que está a esconder algo, possivelmente o seu desconhecimento dos temas.
A única coisa que veio dizer ao debate foi que já tem investidores preparados para investir na cidade. Quando confrontado com a questão sobre se era candidato de substituição, devido à impossibilidade de Maria Dores Meira se voltar a candidatar, não conseguiu esconder o desconforto. É natural, pois é uma grande verdade.
Fernando José (PS)
O candidato do Partido Socialista, e suposto challenger de facto, teve uma postura condizente com o partido que representa. Vem com um discurso estruturado, cheio de frases elaboradas que de tão genéricas poderiam caber até numa candidatura à associação de condomínios.
Começou a criticar André Martins por este estar a fazer promessas de investimento, para logo a seguir levantar uma imagem feita a computador e prometer um grande pavilhão multiusos. Aliás, pelo que se vai ouvindo deste candidato, parece que a única coisa que o Partido Socialista identifica como lacuna na cidade é a ausência de um pavilhão.
Havendo uma pequena oportunidade de destronar a CDU em Setúbal, o Partido Socialista tinha a obrigação de apresentar um candidato muito mais competente e carismático. Para não falar da campanha miserável, que nem parece vinda de um partido de poder, com meios e máquina - alguém me explica que raio de outdoors são aqueles?
Fernando Negrão (PSD)
É o candidato de postura mais institucional, talvez pela experiência que acumula. Viu-se confrontado, logo de início pelo jornalista, com a questão que os seus principais adversários mais utilizam para o atacar. A demissão do cargo de vereador, durante o primeiro mandato da CDU pós Mata Cáceres.
Negrão justificou com a demissão do então presidente da Câmara, Carlos Sousa, que há época se demitiu com queixas sobre jogos de poder dentro da CDU. O candidato social-democrata disse que saiu em solidariedade com Carlos Sousa e aproveitou para assinalar que Maria Dores Meira, nesse mandato, foi presidente sem para isso ter sido eleita.
Vai ter de repetir esta explicação mais vezes se quiser ver-se livre do boato de que abandonou a vereação porque em Lisboa ganhava mais.
Pedro Conceição (ind + CDS-PP)
Deixem o homem falar que ainda aprendem qualquer coisa. Pedro Conceição é um empresário reconhecido em Setúbal, para além regular auxiliador em várias associações do concelho. Tem muita experiência em gestão e, pelo que se vê, bem sucedida. Parece ter uma postura mais tímida, ainda que empática. Referiu uma questão relevante que bem serve à maioria dos candidatos: Prometem-se equipamentos e formas de gastar dinheiro, sem se apresentar um planeamento. (Para que é que se vai fazer? Que estudos se fazem sobre a prevísivel utilização? Queremos construir por construir ou para realmente colmatar necessidades?) Deu o exemplo dos estádios do Euro2004 que muitos deles hoje não servem para absolutamente nada.
Fernando Pinho (BE)
É uma metralhadora incontrolável. O bloquista Fernando Pinho tem muita coisa para dizer, muita crítica para fazer e não parece ter alvos fixos. Por incrível que pareça, tendo a concordar com várias das suas críticas, como a de referir que a Autarquia só se preocupa em maquilhar o centro da cidade para agradar aos turistas, ficando esta parte da cidade a contrastar cada vez mais com as periferias, onde há bairros sem saneamento básico, ou sem qualquer transporte público.
O candidato do Bloco também defende que devem haver benefícios para as empresas (é mesmo do Bloco?!), não podia concordar mais, meu caro capitali...perdão, camarada!
Luís Maurício (CHEGA)
O candidato do CH é representante de um fenómeno que se verifica em várias localidades do nosso país. Para capitalizar o suposto sucesso de André Ventura (suposto porque até agora só tem sucesso nas sondagens), forçaram-se candidaturas no máximo número de concelhos possível. O resultado é que acabam por ter candidaturas que ninguém poderá realmente levar a sério. Luís Maurício não tem nada para dizer sobre Setúbal, para além de tentar replicar a cartilha que Gabriel Mithá RIbeiro escreveu para o partido. Disse que Setúbal estagnou e limitou-se a repetir esta expressão várias vezes. Esta e a falta de segurança. Não fosse o seu carregado sotaque e pareceria um robô que repete meia dúzia de palavras.
Provavelmente terá alguns votos de protesto e de adeptos ferrenhos de Ventura.
Carina de Deus (RIR + PDR)
Desertora do Chega, a candidata da coligação RIR/PDR apresentou-se no debate da RTP3 visivelmente nervosa. O jornalista ainda a estava a apresentar e já a senhora suspirava...
Não tem qualquer arcaboiço para entrar em argumentação com a maioria dos candidatos, e nota-se que o seu projeto não vai além de uma dúzia de frases generalistas. Sejamos sérios: todos sabemos que esta candidatura não está ali para ganhar nada, mas sim para marcar presença na luta que os partidos pequenos agora fazem para entrar na mesmo onde que apanhou o Livre, IL e CH,
Fidélio Guerreiro (independente)
Quem tem um Fidélio tem um grande defensor da sua terra. Fidélio Guerreiro é experimentado nas lides autárquicas em Setúbal e transmite muita confiança quando fala. Porém, o seu atual ritmo para expressar raciocínios não se adequa à televisão. Ficou muitas vezes a meio das frases por ter esgotado o tempo. Parece ser alguém que procura conhecer a fundo os dossiês e que tendo saído do Partido Socialista, conhece os podres da concelhia de Fernando José.
O debate pode ser revisto aqui. Estas foram as minhas percepções da prestação de cada um dos possíveis inquilinos da Praça do Bocage. Se quiserem, deixem-me as vossas nos comentários.