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The Pólis

3 motivos pelos quais André Ventura é imbatível em debates

Começou no dia 2 mais uma ronda de debates alusivos a eleições, desta vez Legislativas.

220103_debate-1600x740.jpgDitou o sorteio dos debates que no primeiro dia da ronda de debates televisivos, tivéssemos os dois extremos do hemiciclo em debate. A seguir a um morninho, quase frio, debate entre o primeiro-ministro, António Costa, e o candidato do Livre, Rui Tavares - houve quem dissesse que se tratou de uma entrevista de emprego -, tivemos um encontro que prometia ser escaldante entre Catarina Martins, do Bloco de Esquerda e André Ventura do CHEGA! .

Poker Face - a líder bloquista tentou adoptar uma estratégia diametralmente oposta à da sua correligionária Marisa Matias, aquando dos debates para as Presidenciais, com o mesmo adversário. Ou seja, em vez de reagir às cargas de ombro e aos carrinhos de Ventura, digo, às interrupções e provocações, Catarina Martins tinha delineado fazer-se impávida e serena.

Nem tanto à Terra, nem tanto ao Mar - porém, a estratégia levada demasiado à letra e ainda teve alguns pormenores insólitos. É que se grande parte dos ataques desferidos por Ventura foram roboticamente ignorados pela líder do Bloco, outros a bloquista optou por responder... com recurso a citações do Papa Francisco. Sim, a coordenadora do Bloco de Esquerda escudou-se em frases e atitudes do líder da organização que os seus militantes mais detestam (a seguir ao CH), a Igreja.

Imagem final - naquele que era provavelmente o debate mais relevante para ambos os candidatos, primeiro porque as sondagens dizem que disputam o 3º lugar, segundo porque cada um deles representa a piñata preferida dos militantes do partido do adversário, a imagem que fica é de uma Catarina Martins "congelada" a receber acusações e perguntas que não abonam em seu favor ficarem sem resposta. Do outro lado, mais uma vez, Ventura cumpriu o ponto de satisfação dos seus militantes e apoiantes.


No dia seguinte, ditava o calendário que o líder do CH defrontasse o presidente do PSD, Rui Rio. Não me irei alongar nos comentários a este debate, senão nunca mais chegamos ao cerne da questão. O que importa reter de ambos os debates, é que em ambos poderíamos confortavelmente assumir que Ventura venceu. Notou-se que Rui Rio tinha dificuldade em lidar com o que estava à frente dele e passou parte do debate a discutir as propostas que Ventura lhe lançava. E alguém questionará: então ganha sempre?
Quase. Podemos dizer que em 99% dos debates, André Ventura entra sempre em xeque-mate. Porém isso não se deve apenas à sua capacidade de tagarelar à velocidade da luz.

 


Vamos então aos 3 motivos pelos quais é tão difícil passar a imagem de vitória num debate com o líder dos cheganos.


A parte que cabe aos partidos - Anos e anos de descredibilizacao política, e de descredibilizacao da política originaram uma população desinteressada na res-publica e profundamente abstencionista.
Os partidos não se preocuparam nunca em adaptar-se aos tempos, cultivam ainda hoje as mesmas táticas, as mesmas formas de passar mensagem, como se tivesse uma amplitude de votos garantida. Continuam hoje a dar-se ao luxo de não pedir desculpa por um erro, de recusar medidas de transparência ou de manter políticos associados a crimes, no ativo. Gerou-se um "são todos iguais, todos roubam", cada vez mais audível.

A parte que cabe aos Governos - Anos de instabilidade em matérias essenciais, como o delinear de um modelo educativo, que é traçado e retraçado conforme a orientação ideológica do Governo do momento, acabaram por negligenciar a formação de cidadãos com maturidade para abraçar os direitos e deveres de uma cidadania ativa e responsável.
Essa negligência nota-se desde o momento em que alguém não está familiarizado com o significado da sigla I.R.S. até aos que ignoram por completo o nome do primeiro-ministro do país em que vivem. Cidadãos alheados da realidade, criam políticos moralmente fracos, que se aproveitam destas fragilidades da sociedade para dizerem o que querem e tomarem as decisões que lhes apetecem por não temerem o escrutínio do povo.

A parte que cabe aos jornalistas - Uma comunicação social que entrou em loop, entre a falta de educação para os media, a consequente falta de dinheiro e a incapacidade de se renovar ao mesmo tempo que cumprem os seus deveres para com a população, de servir através da informação e do escrutínio do poder. Limitam-se hoje ao entretenimento, sendo que nao há uma única esfera da nossa vida que seja analisada para além das audiências.
Vemos isso, mais uma vez, no ridículo tempo que disponibilizam para os candidatos às eleições debaterem publicamente os seus projetos políticos. Cerca de 12 min para cada um, e nem mais um segundo. São apenas as eleições em que os portugueses decidirão o próximo Governo de Portugal, não é necessário despender demasiado tempo com isso...
deixo também o desafio para que fiquem atentos ao teor da maioria das perguntas dos moderadores dos debates: perguntam mais sobre as propostas ou sobre geometria parlamentar (com quem é que se junta para formar governo, o que faz se tiver menos deputados, etc). O que é saímos a saber dos programas de cada partido?

Estes ingredientes formam o bolo que torna um projeto e um político como André Ventura, blindados em quase todos os ângulos.
Reparem que neste momento, o político que alegadamente está em ascendência, que consegue que tudo o que diz ou faz seja mediatizado, que reúne milhares de euros em donativos, é exatamente o tipo de político que toda a gente acharia impossível de conseguir algo sequer parecido há poucos anos.
Impossível porque como se sabe, o CDS  já era intitulado extrema-direita, daí que qualquer partido ou político que alegasse ser mais à direita do que o CDS, incorria na pena de ostracização e no atestado de seita de "maluquinhos".

No entanto, num par de anos temos uma comunicação social a levar ao colo um político a que os próprios agentes dessa comunicação social não se inibem de intitular de populista de direita ou extrema direita. Como é que chegámos aí? Porque é os jornalistas não gostando dele, não conseguem viver sem ele? Audiências. Um "maluquinho" (salvo seja porque se há coisa que Ventura não é, é maluquinho apesar de não se poder dizer o mesmo de muitos dos que o rodeiam), dá muito mais audiências que um político cinzentão, a debitar o mesmo politiquês que já se debitava há 30 anos. Ainda para mais em 15 min.

O André vence qualquer debate, porque não é escrutinado nem pelos jornalistas nem pela população, porque se atreve a ir mais longe na demagogia que os políticos do costume e utiliza as mesmas frases de senso comum de um povo que foi mal-educado e que está tão saturado de políticos que só os quer ver em pânico a tentar reagir às bocas e às acusações de Ventura. Tenham elas fundamento ou não.
É nesse colete à prova de balas, que ele consegue simultaneamente dizer que o PSD é igual ao PS mas que ele quer governar em conjunto com eles, que já propôs o internamento compulsivo de pessoas com covid mas agora diz que todas as medidas representam um apartheid sanitário, ou que os deputados do CH nos Açores, que lhe desobedeceram e não acataram a ordem de romper o acordo com os restantes partidos, na verdade não lhe desobedeceram mas deram sim um "Murro na mesa" para conseguirem a implementação das suas propostas.


Nunca se consegue confrontar o líder do CH com uma incoerência porque ele responde que é uma evolução de pensamento e os seus apoiantes engolem. Não o podem relembrar do seu passado no PSD, porque ele responde que não tinha responsabilidades governativas, ainda que ele faça as mesmas acusações aos adversários quando estes muitas vezes também não as tinham. Não se consegue completar uma frase que ele note que não lhe vá ser proveitosa sem que interrompa rapidamente com perguntas retóricas.

O André não vence todos os debates porque eu já o vi perder um, mas não é fácil conseguir ultrapassar estes obstáculos que o tornam tão escorregadio. O único político que até hoje conseguiu a proeza, foi outro que talvez seja tão escorregadio quanto o presidente do CHEGA! : falo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. São várias as pessoas que se cruzaram com o Marcelo, ao longo dos anos, que mais tarde o relembram com uma figura reptiliana, de grande perspicácia e capacidade de desferir golpes implacáveis nas costas.
Pouco interessam esses atributos para um debate, mas deve ser o único político na atualidade que consegue, tanto numa entrevista como num debate, manter um raciocínio assertivo e coerente apesar de estar a ser interrompido, como se nada fosse. Aliás, quem o tenta interromper normalmente acaba por desistir. Esse foi o grande trunfo no debate com Ventura, é que este não o conseguia parar.


Por falar em debates, hoje há três e eu fico-me por aqui. Para quem não tenha tempo de ver os debates no momento em que dão e não esteja para saltar de canal em canal e andar para trás, a RTP Play disponibiliza todos os debates, de todos os canais, no site.

PS: Feliz Ano Novo!




O PSD fez o que era expectável. Durante esta semana ficámos a saber que a Direção do PSD chumbou a coligação pré-eleitoral com o CDS. Pelo que veicula na comunicação social, Rui Rio não se pronunciou e deixou a sua Comissão Política Nacional decicidir sem influência do presidente.


Secalhar alguém lê esta informação e pensa que é um gesto muito democrático de Rui Rio. Aliás até pode ter sido esse o objetivo de Rui Rio ao passar esta informação para a comunicação social: enganar alguém mais distraído.


No entanto, lamento desiludir, mas Rui Rio não se pronunciou porque já sabia que decisão seria tomada pela CPN e possivelmente por toda ela, tendo os 3 votos a favor sido feitos para a notícia não fosse a unanimidade contra o CDS - não esquecer que podem ainda precisar do partido de Francisco Rodrigues dos Santos.

Percebo o argumento de alguns, do PSD e do CDS, de que os seus partido precisam de ir sozinhos para mostrarem o que valem. Porém, o que espero de líderes políticos do espectro não socialista, após 6 anos de governação ininterrupta do Partido Socialista, e com tudo a apontar para mais 4, é pragmatismo.
E este pragmatismo passa por ter a humildade e a inteligência de ver que há uma marca política de centro-direita que funciona em Portugal. Essa marca chama-se PSD/CDS, venceu as duas últimas eleições legislativas e conseguiu muito bons resultados nestas últimas autárquicas, até mesmo no alentejo.

portugal-a-frente.jpg


O pragmatismo de reerguer esta marca, dota-la das ferramentas e dos recursos humanos necessários para relembrar aos eleitores que esta é uma marca de confiança, de boa governação e de boa aceitação internacional. Que é a marca não socialista por excelência, em que milhares de portugueses confiaram localmente, e que é sempre chamada para resolver os problemas gravíssimos que são deixados nas secretárias dos ministérios quando se deixam por lá muito tempo os socialistas e as suas famílias.

Este modo de ver a política, como um serviço e sobretudo agora como uma missão de salvação do país (digo mesmo salvaçao, pois basta lermos todos os indicadores de crescimento para ver que Portugal é o país que mais afunda na UE, e em que os cidadãos vivem cada vez pior) de uma rota de desastre irrecuperável seria o que se exige num momento destes. Este seria o momento para o fazer. Não foi o entendimento do PSD. Porquê?

Porque como bom partido de caciques e de jogo político pelo poder, o PSD não consegue limpar as remelas do maquiavelismo. Não seria grave se estivessem a fazê-lo contra a Geringonça, mas optam por fazê-lo contra Portugal. Tal como o escorpião, que não consegue recusar a sua natureza, também o PSD não consegue evitar de ser traiçoeiro e, fazendo uso das sondagens que Rui Rio tanto critica, acha que é o momento ideal para se descartar do CDS, considerando que desse modo lhe dão a estocada final.

Este é um PSD que se demonstra pouco recomendável. Na incerteza e na avaliação de cenários possíveis, Rui Rio e os seus correligionários preferiram a probabilidade de matar o CDS, que a probabilidade de com o CDS, afastar António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa do poder.

Todos iremos sofrer as consequências desta decisão. Até Rui Rio.

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