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The Pólis

Praxes

e as vantagens da pandemia

Este ano, como consequência do estado pandémico em que vivemos, no ínicio do ano letivo do ensino superior surgiram várias notícias de que as praxes seriam suspensas, como forma de não se correr riscos de incumprimento das normas da DGS.


Não sei se o foram em todo o lado ou não, ou se suspenderam ou modificaram apenas algumas atividades. É impossível aferir a veracidade destas afirmações, pois antes da pandemia tanto as instituições de ensino superior (IES), tanto os estudantes, mentiram e arranjaram estratagemas para que as praxes decorressem mas de forma a que os reitores e presidentes pudessem, caso necessário, aparecer nas notícias de "mãos limpas". Sempre houve um elevado nível de hipocrisia para defender uma atividade sem nexo.

Mas partindo do princípio de que somos todos muito honestos e portanto é mesmo verdade que foram suspensas, só tenho a dizer : sorte a dos novos estudantes!

Não me considero anti-praxe, como gostam as associações académicas e comissões de praxe catalogar, pois nunca fiz nenhuma apologia junto de nenhum colega para que deixasse a praxe, quando frequentei o ensino superior. Mas sempre tive a minha opinião quando me perguntavam, e não é favorável.

Parte logo da retórica de "nós vs eles" que se incute nos caloiros, sendo que "nós" são os que alinham nas praxes e supostamente têm mais "espírito académico" (ainda não se sabe muito bem o que isto é), e o "eles" que são todos os que não alinham e portanto são automaticamente rotulados de anti, chegando-se ao rídiculo de se lhes querer vedar o uso do traje académico - cada vez mais traje de praxe.

A partir daí, é sempre a descer. São dadas as justificações mais patéticas possíveis para defenderem o triste regabofe. O que mais gosto é o das "pessoas incríveis" que se conhecem na praxe, evocando um suposto estreitamento de laços que acontece algures entre o ovo na cabeça e o rebolar no chão. A maioria das pessoas que chega ao ensino superior teve, no mínimo, de fazer 12 anos de escolaridade. Se nunca precisou de dar cambalhotas para fazer amigos, conhcer "pessoas incríveis" e integrar-se, duvido imenso que precise de o fazer quando chega ou está a chegar à maioridade.


Veem-se estudantes a dar ordens a outros estudantes, submetendo-os a uma hierarquia onde quem mais chumba mais importante é. Desde o Meco, que gostam sempre de dizer várias vezes que "Só faz quem quer", colocando o ónus da decisão no caloiro, muitas vezes de 17 anos, que acabou de chegar ao ensino superior e recebe toda uma lavagem sobre os efeitos nocivos de não fazer a praxe - não usar o traje, não viver o "espírito académico", não ficar integrado na turma e, como diz em alguns manuais de praxe, não participar nas atividades académicas. Mas a escolha é simples, só fazem porque querem...

Os que a fizeram, não suportam a ideia de que novos estudantes possam usufruir de tudo, em especial do traje, sem cumprir a "recruta", e muitos esforçam-se para que seja uma recruta memorável, muitas vezes pelos piores motivos.

Outro argumento é o da tradição académica ou espírito académico. A tradição cai por terra, especialmente quando falamos em politécnicos e universidades privadas. Não é tradição, é imitação.
O espírito académico, ninguém sabe muito bem definir o que é, mas a única coisa que a praxe tem de académico é ser feita (e às vezes nem isso) no mesmo espaço físico da academia. Mas por essa lógica de ideias, almoçar no refeitório é uma atividade de cariz académico. O tal espírito, dizem que se prende com a entreajuda e a animação. Ou seja, algo que se encontra em qualquer grupo, mas aqui é feito com pessoas vestidas de preto.

Os estudantes que praxam nunca sabem justificar decentemente porque é que se submetem a ordens rídiculas, que muitas vezes implicam esforço físico e falta de higiene. Quando os argumentos são atirados por terra, um a um, carregam no botão "não fizeste, não percebes".
Eles é que ainda não se aperceberam que colaboram com uma alegada tradição de alívio de frustrações, que é patrocinada por N marcas, e que esses sim são os grandes interessados em manter as praxes.

Acabem com as praxes e os seus rituais inventados, com as tradições saídas da cabeça de um grupo de estudantes bebâdos há uns anos atrás, e há muita gente que perde dinheiro. Por isso é que é tão importante que se mantenha vivo espírito académico, pela saúde das contas bancárias de associações, lojas de trajes, de cervejarias e demais materiais, alguns que trabalham especificamente só nesse âmbito.

Se os novos estudantes não fizerem as praxes, ainda bem para eles. Não perdem nada.

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