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The Pólis

Gerou-se a indignação geral, as tropas digitais pró-liberdade já se reúnem, as fotos de telemóveis antigos circulam abundantemente pelas timelines das nossas redes sociais: "Não passarão!" proclamam do topo da sua cadeira de escritório IKEA.

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O Governo lançou, em conjunto com as medidas do mais recente Estado de Calamidade, a ideia de que a aplicação de telemóvel Stayway Covid tem de ser obrigatoriamente instalada por todos nós e, hoje já sairam manchetes de como já estão a mobilizar as forças de segurança para executar a necessária fiscalização.
Entretanto, já andamos todos a discutir sobre como tudo isto é uma afronta às liberdades de cada um, a Iniciativa Liberal lançou imediatamente uma imagem para se colocar na dianteira da defesa da liberdade e sugere-se em jeito de piada que o Governo vai oferecer smartphones.

António Costa e a sua equipa sabem muito bem que a regra de obrigatoriedade de instalação de uma aplicação não passa de uma tontice. O plano nunca foi realmente vir a fazê-lo mas caímos que nem tordos. O primeiro-ministro tem alguém muito maquiavélico e criativo na sua equipa, para ter tido esta ideia.

Era quase indiscutível que se teriam de tomar medidas face ao aumento exponencial de infetados com covid-19, mas há que ver que o mundo, e em específico o país não pára por isso. Estávamos a meio da discussão do Orçamento de Estado, documento esse no qual já foram encontrados vários erros, gralhas e ditos por não ditos. Os parceiros da Geringonça não revelam jogo e, particularmente o Bloco de Esquerda optou por acentuar o seu teatro pré-aprovação, com exigências novas todos os dias e declarações públicas.
O PSD, ainda que para o Executivo não conte como parceiro para aprovação do Orçamento (a ministra Mariana V Silva disse isso mesmo ontem em entrevista), não por falta de vontade de Rui Rio, também ainda não informou sobre o seu sentido de voto.
Este é também o primeiro OE sem o toque do Ronaldo das Finanças, ou seja, não usufrui de tanta credibilidade, e é um OE de preparação da crise. Todos sabemos que a crise é uma oportunidade para os partidos da oposição abrirem feridas aos Governos. António Costa não está para isso, e opta por um arriscadíssimmo virar do tabuleiro: A app será obrigatória nos telemóveis de toda a gente!

Não será. É impossível fazê-lo, quer pela impraticabilidade da fiscalização, quer pelos antagonismos que ia gerar, quer pela provável insconstitucionalidade da medida. 
Mas o Governo já instalou a app onde queria. Instalou-a nas nossas conversas virtuais e reais, nos partidos e nos meios de comunicação social. A app é o hot subject do momento, o que permite uma diminuição pacata do prazo até à data de aprovação do OE. O Bloco já não consegue fazer o seu teatro para animação interna, pois os orgãos de comunicação e a população não estão interessados. Já ninguém quer saber se o PCP vai votar favoravelmente ou não.
Os partidos da Direita, apesar de já terem sinalizado o voto contra, também agora só estão preocupados com os telemóveis da nação.
Esta folga permitirá pressionar o Bloco e o PC, que chegarão à data da votação do Orçamento sem ter reivindicado publicamente nada, e terão de aprovar o documento ou serão acusados pelo seu eleitorado de entregar o país à Direita novamente. Os parceiros da Geringonça vão ter de fazer as suas exigências em privado, pois o público está contaminado pela App do momento.

Está instalada a app e desinstalado o escrutínio. Parabéns aos envolvidos.

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