Direitas há muitas
Mas nem todas potáveis
O lado direito do parlamento tornou-se mais concorrido e "apertado" que nunca. Passou a contar com mais dois partidos (IL e CH) que passaram a ser vizinhos do CDS.
Mas desde o ínicio da legislatura, que todos eles têm tido registos muito diferentes. Isto, contando com o PSD - não por ser de direita, mas porque é onde direita envergonhada sempre gostou de votar. Com o inevitável devir, observando a atuação de cada um, podemos projetar com que direita se pode contar.
Partindo do princípio de que a estabilidade democrática necessária para o bom e "regular" funcionamento das instituições (não estou a falar de manutenção de vícios nem perpetuação dos erros de sempre), é feito e asegurado por forças políticas moderadas, sensatas disponíveis para o consenso mas com a coragem assertiva de apontar o erro, confrontando-o com soluções, atualmente temos de excluir dois dos quatro partidos que compõem a opção de voto do eleitor de Direita.
O PSD, liderado por Rui Rio, já deu a entender por várias vezes que não quer nada com este espectro político. Não quer conotações com a direita, não quer reformar nem incomodar mais que o que chegue para fazer uma notícia banal de telejornal. Aliás, ainda ontem tivemos (mais) um exemplo disso: São contra a ida de Mário Centeno para o cargo de Governador do Banco de Portugal, no entanto não farão nada para o impedir. Recusam-se a aprovar leis "ad hominem", e dizem-no achando que a patranha passa. Não é isso que impede o PSD de participar na elaboração da lei que poderia impedir a ida de Mário Centeno pata o Bdp. É o comprometimento que o partido tem, com escolhas anteriores, em que também já teria politizado o cargo, especialmente quando reconduziu "à força" Carlos Costa, pouco antes das famosas eleições da Geringonça. Outro motivo é a esperança que o PSD tem de voltar a ser Governo, e como tal não lhe convém a aprovação deste género de leis, reformistas e que melhorariam o funcionamento futuro das instituições.
De resto, Rui Rio não se tem poupado esforços a dizer que é um homem de esquerda, que o partido é de esquerda e que claramente apenas pretende dar a ideia de que o PSD é um PS 2, e que caso se enjoem do cor-de-rosa, podem tê-lo em laranja.
O Chega! também não constitui qualquer opção viável de futuro para Portugal. É um partido criado pelo ex-militante do PSD que, astuto, aproveitou uma moda política internacional ( populismo de direita) e importou o conceito para Portugal, onde este estava muito mal franchisado através do PNR. Com uma máquina de propaganda eficaz, alguns investidores motivados, tem conseguido imensa notoriedade e projecção nas sondagens. No entanto, um país não se constrói com soundbytes, não se reforma com gritos nem se potencia com despiques nas redes sociais. O Chega! é partido de reclame, que vocifera o que vai nas cabeças de quem se irrita em casa quando abre o telejornal. Infelizmente, acho que é unânime, em nenhuma situação da nossa vida, consideramos que falar e agir de cabeça quente ajuda. Esta é uma direita mal enjeitada, que se alimenta de todos os recalques, ódios e preconceitos e tem como núcleo principal da sua existência, ser uma anti-esquerda. Não dando conta que se coloca na posição de ser o seu espelho.
Ficamos então, por exclusão de partes, com as duas últimas opções que, na minha opinião, são as mais consistentes, coerentes e capazes de representar um futuro para a Direita em Portugal. O PP e a IL.
A IL, apesar de ser uma análise precoce, tem feito um percurso coerente e moderado, encabeçado pelo seu presidente e deputado Cotrim Figueiredo. Aposta no combate ideológico mas com recurso a argumentação sustentada em factos e não em impulsos e emoções. Apresenta soluções que vão ao encontro da sua índole liberal (ainda que não totalemente liberal) e já definiu o seu público alvo: os jovens. Aliás, quem estiver mais atento pode notar que é rara a posição pública do partido que não mencione os jovens. Pode ser fogo de vista, querendo aproveitar o target, ou pode mesmo querer dizer que querem apostar nesta franja da sociedade, com propostas concretas. O tempo o dirá.
Cotrim Figueiredo não caiu na individualização, comum em partido micro, com que Joacine caiu em desgraça ou com que Ventura tem caído em graça. Mantém-se com o destaque q.b. confrontando quem tem de confrontar e perguntando o que tem de perguntar. A mensagem vai passando de forma relativamente eficaz nas redes sociais e em outdoors criativos pelo país. Não se recusam a entrar em campos liderados pela esquerda, como a luta dos direitos lgbt ou a legalização de drogas leves, ainda que coincidam com posições do Bloco de Esquerda, o que não agrada propriamente ao eleitor de Direita conservador ou pouco habituado a este espírito tão liberal.
Transmitem uma imagem responsável, serena e acima de tudo não socialista.
Por fim, o CDS-PP, agora presidido por Francisco Rodrigues dos Santos. Este jovem líder, apontado pela Forbes como um dos 30 jovens mais promissores da Europa, deu o salto da Juventude Popular para o a "equipa A". Trouxe consigo muitos dos seus colegas da jota, mas soube conjugar também experiência colocando na sua equipa membros mais experientes e conhecidos do partido. Foi inicialmente conotado com André Ventura, por serem famosos os seus discursos inflamados e as suas posições enquanto líder da JP, acerca por exemplo, do casamento homossexual. A comunicação social não foi meiga com o recém chegado à "política dos graúdos" como diria MST, e começaram por acusá-lo de ter poucas mulheres na comissão executiva, tentando mais uma vez colá-lo a um lugar de machista. Isto num partido, que vinha sendo liderado por uma mulher até então. Também houve o caso de Abel, o polémico centrista bafiento era nitidamente uma nódoa na equipa de FRS e por pressão da comunicação social, saiu.
Passados estes primeiros episódios, o CDS-PP tem mantido uma linha de oposição responsável e moderada. No Parlamento, com as prestações de qualidade especialmente de João Almeida, Cecília Meireles e Telmo Correia, mas também na rua. Francisco R Santos tem levado à letra o mote de Portugal ser o seu escritório, como diria durante a campanha para liderança do partido. Apesar de ser o mais novo, dos líderes à direita, tem-se revelado o mais ponderado nas posições. Tome-se como exemplo a questão do racismo onde, Rui Rio e Ventura tiveram a triste ideia de dizer que não há racismo em Portugal. O líder do CDS-PP não cavalgou a mesma onda, ainda que em setores menos aconselháveis do partido, isso agradasse. Por agora, há um jovem líder que se tenta aproximar do país real. Outra vantagem do PP é que tem quadros que garantem a continuação de boas lideranças - João Almeida não desistiu de querer liderar o partido e Adolfo Mesquita Nunes tem dado claros sinais de se preparar para assumir essa vontade.
Fosse Portugal outro e não tivesse os preconceitos que tem com a Direita, e este seria o partido que naturalmente rivalizaria com o PS, como acontece em países como a Alemanha, Espanha ou Reino Unido.
Logicamente que estas divagações, são leituras próprias e que não terão, provavelmente, ligação ao que estará por vir politicamente em Portugal, e muito menos ao que a maioria pensa. No entanto, é a visão que tenho.
A Direita em que se pode confiar, no momento em que vivemos, está na Iniciativa Liberal e no CDS-PP. Vivemos tempos de insegurança e incerteza, precisamos de serenidade e responsabilidade. Não de gritaria e show-off ou de mais socialismo.
Blue could be the warmest color.