Ontem, durante um directo da CMTV, o repórter Paulo Jorge Duarte foi atirado a uma piscina por alegados membros da claque Super Dragões. O seu colega pivot, com quem estava em contacto, riu-se e disse que era uma brincadeira (ainda se desculpou dizendo que o repórter não estava a festejar com os portistas), os rapazes que o atiraram riram-se, nas redes sociais a partilha do vídeo foi viral e toda gente reagiu de forma animada. Houve quem ligasse o "atirar do microfone" de Cristiano Ronaldo, ao momento.
Mas será isto uma brincadeira adequada? Consentida já sabemos que não. O Paulo Jorge Duarte terá ficado contente por, muito provavelmente, lhe terem estragado o telemóvel? Não se terá assustado? E se não soubesse nadar?
Para mim, este episódio não teve piada nenhuma. Foi apenas mais uma demonstração de algo que já tendo sido denunciado em parte, há uns anos atrás, por cá continua a acontecer : o desrespeito por um profissão e por quem trabalha na área do jornalismo.
Parece que se tem como ponto assente que, especialmente em ambiente futebolístico, o repórter é alguém a quem se pode fazer tudo, um boneco, que tem de manter a postura em frente à câmara independentemente do que está a acontecer à sua volta. E como normalmente os abusos acontecem em clima de "brincadeira", vale tudo.
Há dois anos atrás, aquando do Mundial, os casos de desrespeito pelos repórteres ganharam algum mediatismo no caso concreto das mulheres. Estávamos em pleno período #MeToo e nasceu um outro hashtag relacionado com a problemática dos diretos em ambiente futebolístico, o #Deixaelatrabalhar. Os casos de repórteres apalpadas, beijadas, assediadas em pleno direto era chocante, e mais chocante ainda a reacção dos colegas em estúdio. Tal como no acontecimento de ontem, era rir e dizer umas graçolas.
Se nas mulheres o caso choca pelo asco que nos dá, ver símios excitados, em grupo, a perturbar o trabalho e a violentar as repórteres, o caso dos homens não deve ser tido como de menor gravidade.
Um repórter, um jornalista, é uma pessoa que está a trabalhar. Não é um brinquedo e não tem de permitir que lhe façam o que quiserem e manter-se impávido e sereno. Não é normal que todos achemos piada e muito menos os colegas de profissão.
Estranho imenso que ninguém fale no assunto com a seriedade que, a meu ver, merece.
Tentem imaginar que estão no vosso trabalho, e alguém que não conhecem, do nada, decide despejar-vos um balde de água fria em cima. Era só uma brincadeira?