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The Pólis

Associações? Junto todas e construo um castelo

Mais uma associação domesticada com sucesso, em Setúbal

Ontem, a Câmara Municipal de Setúbal publicou na sua página oficial de Facebook, mais uma cerimónia de estabelecimento de protocolo, entre a autarquia e uma associação.
Mais uma operação de charme e compra de apoio, bem sucedida. Maria Dores Meira revela-se, mais uma vez, uma belíssima estratega que não deixa para mais tarde o cimentar da CDU nos Paços do Concelho.

E demontra-se, mais uma vez, algo para o qual já tinha questionado num post anterior. Que independência têm estas coletividades, quando as câmaras lá injetam dinheiro, ano após ano? Quando se tornam a principal fonte de receita das associações?

Neste caso, foi a Associação das Coletividades do Concelho de Setúbal, uma associação criada há menos de 4 anos. Já a sua criação, o intuito da mesma, desconfio que tenha sido exatamente para chamar a si o apoio da Câmara: Uma associação que representa as outras associações. Coisas à portuguesa. Mas obviamente que a CDU não podia, como de resto não o faz com nenhuma outra coletividade, deixá-la à deriva, sem que se tornasse em mais um pólo de propaganda à presidente.

É longa a lista das associações que recebem subsídios municipais e das juntas de freguesia. Estes subsídios não são inocentes, são a compra destas coletividades, que deixam de ser independentes e passam, em tudo o que fazem a publicitar a Câmara. Exemplo disso, a imagem da página do São Domingos Futebol Clubes, onde sem qualquer pudor se escreve "Obrigado à Ganda Presidente Maria das Dores Meira!" - claro está, mais uma coletividade que sobrevive graças ao dinheiro que a "ganda presidente" generosamente oferece, para incentivar e apoiar o movimento associativo, obviamente.
Diz muito, não só em Setúbal, do que é o espírito associativo português: juntar um grupo de amigos, dar um nome ao grupo, pedir apoio financeiro à autarquia e organizar um ou outro evento de quando a quando. Entidades que deveriam ser uma prova de valor da sociedade civil, da entreajuda e da capacidade de, em união, se construir algo independente e útil, em Portugal são, na sua grande maioria grupos subservientes ao poder político local, sem qualquer capacidade de representar nada senão a patuscada mensal no bairro.

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Aproveitar um Estado de Emergência - que em rigor não vigora aquando da sessão - para experienciar o sonho molhado da esquerda: governar, em segredo, sem prestar contas, sem o povo que dizem representar a chatear , ou pior, a fazer perguntas e sugestões.

Fazem-no sem qualquer despudor, dado que utilizam com grande avidez as redes sociais para publicarem as suas produções propagandísticas - mensagens dos presidentes de junta, vídeos para entreter, ou como já aqui publicado levam a equipa de filmagens para todo o lado.

É impossível que achem que alguém acredita que não permitem a gravação das assembleias e reuniões de câmara, porque acham que estimula a "cidadania passiva" ou porque não têm meios para isso.

Não querem ser escrutinados. E o povo não reclama, porque anda dormente com a sedação da "união" administrada pelo PS, com um tempero de "patriotismo" do PSD. Não há uma única que voz que questione porque raio, agora que ninguém pode testemunhar presencialmente as reuniões, proíbem a presença de comunicação social e não se predispoem a gravar e transmiti-las online.

 

Democracia em segredo não é democracia. A Câmara Municipal não é o Comité Central.

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A frase é de um sacerdote de Oeiras e foi proferida a propósito de uma iniciativa do CHEGA, que ofereceu produtos de higiene básica a um lar mas "esqueceu-se" de informar que o ia fazer em âmbito institucional - ou seja para poder publicar nas redes sociais. Ao que parece o sacerdote mão gostou e declarou sentir-se enganado, proferindo a sábia frase para quem mais tarde o entrevistou.

 

Não é uma prática inédita, muito menos original, no entanto a frase tem-me ecoado na cabeça sempre que, durante este período de crise pandémica, leio uma notícia deste cariz. Alguma universidade que ofereça três pares de alcóol gel e têm alguém de posar sorridente com os frascos na mão. Algum café que decide fazer umas refeições para oferecer aos enfermeiros do Hospital X, e lá vão todos juntar-se na fotogénica meia-lua com as embalagens na mão.Em linguagem adolescente contemporânea, que "cringe"! 

 

Em Setúbal, tenho verificado também, como seria de esperar, este triste fenómeno:

 

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Para entregar uma caixa de alimentos, são necessárias três pessoas: uma para tocar a campainha (imagino que seja a pessoa que realmente costuma fazer o trabalho), o presidente da junta para "surpreender" (infelizmente reforçam o preconceito de qe os políticos não fazem nenhum e por isso é que surpreendem) sorridente com a caixinha na mão e, claro, o fotógrafo de serviço, a captar o momento. No fundo, o presidente não vai apenas entregar uma caixa de alimentos a um freguês, vai entregá-la a toda a gente que o segue nas redes sociais.

 

Mas o caricato (cringe) mais desconfortável dos últimos dias, foi para mim este:

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A Casa Ermelinda Fretias oferece, e bem, uma enorme quantidade de alcóol gel à Câmara Municipal de Setúbal, para que o distribua conforme seja mais necessário. Qual é a primeira coisa a fazer?

Colocar cuidadosamente, garrafão a garrafão, quiçá sobre orientação do decorador-môr do reino João Maria, em grupos de formação triangular e com os respetivos selos todos virados na mesma direção. Depois, toda uma comitiva dos bombeiros e da Protecção Civil têm de aguardar que a Sra. Presidente vista o seu brilhante colete (dá um ar de maior preocupação e envolvimento) e dê umas palavras para a câmara de filmar que um funcionário trazido para o efeito manobra. Findo o registo, há que iniciar todo um Book fotográfico, com todos os presidentes de junta, em pose junto aos garrafões - como se o mérito de terem aquele material fosse de alguma forma daquela gente - e depois claro, o carregar dos garrafões e repare-se que, na galeria publicada no Facebook oficial, cada presidente de Junta tem uma foto em que aparece sozinho, a carregar garrafões (mais uma vez têm de dar um ar de que fazem alguma coisa e mais uma vez é tão forçado que só reforça preconceitos) para que possam também eles publicar nas suas redes sociais. 

 

Agora imagine-se todo este arraial cada vez que ha uma doação de material neste país. O tempo que perde e se desaproveita, com Bombeiros, Protecção Civil e outros funcionários acionados para colaborar nesta fanfarronice. Triste fadinho e triste (para não dizer ofensiva) gestão de prioridades em tempo de crise.

 

 

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