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The Pólis

25 de Novembro e então

Deixo-vos alguns links interessantes sobre o «polémico» dia de hoje

O 25 de novembro dá sempre que falar, com a esquerda a querer impingir-nos a ideia de que quem assinala o dia é fascista. Como se estivessemos obrigados a escolher entre o 25 de abril e o 25 de novembro, reduzindo dois momentos importantíssimos da nossa história recente à palermice da bipolaridade com que tudo se vive hoje em dia. 

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Não não temos de escolher entre uma e outra. Não devemos, não faz sentido. Complementam-se, pelo menos na ótica de quem acredita na democracia. Felizmente houve 25 de abril que nos tirou das garras da ditadura, felizmente houve 25 de novembro que cortou com os planos de nos levar para o colo de outra ditadura. 

Apesar de muita comunicação social ter ignorado o dia, aconteceram algumas coisas interessante, que partilhos nos seguintes links: 

Esta reportagem do Expresso --> Clica aqui 

O Marcelo a finalmente tomar uma posição decente sobre o dia --> Clica aqui

Moedas a fazer o que muitos presidentes de câmara não têm coragem --> Aqui

Esta Exposição que vai estar em exibição até dia 15 de Dezembro -- > Aqui

Nuno Melo a dizer o que é óbvio --> Aqui 

E já que o blogue tem origem em  Setúbal, os putos que lembraram o dia por cá --> Aqui

Os seres humanos são muito bons a adaptar-se a novas dinâmicas, graças há sua habilidade única de colocar a imaginação em prática. Desenvolvem novas soluções para novos problemas, constantemente há milhões de anos.

Interessante também é o reverso desta moeda. A nossa excelente capacidade para criar problemas. Li hoje um artigo da revista The Wired que me despertou para esse grande pormenor da nossa existência. Tanto quanto tenho noção, o tema do efeito sono, da qualidade deste, na nossa saúde e consequentemente nas nossas ações ao longo do dia, é um tema júnior no ambiente da comunicação social generalista.

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Há dois ou três pares de anos que começámos a ouvir falar nos ciclos de sono, nas pessoas noctívagas, na redução da esperança média de vida quando não respeitamos os horários de sono que os cientistas aconselham. Lentamente esta preocupação acabou por penetrar nas nossas mentes e de certeza que quase toda a gente, em algum momento, já deu dois dedos de conversa sobre o sono - “se não dormir 8 horas não aguento o dia”, “está provado que dormir pouco nos põe doentes”, “dizem que na minha idade devia dormir X horas, ando a dormir Y, por isso vê lá…”.

Voltando ao artigo da revista de teconologia, este indicava que nos começámos a preocupar com a nossa qualidade de sono, e bem. No entanto, influenciados pela narrativa de que há quantidades de sono tabeladas para cada idade da nossa vida, acabámos a preocupar-nos demais et voilá: temos um novo problema.

Agora há um número significativo de pessoas que passaram a ter insónias porque se tornaram ansiosas com o objetivo de atingir uma qualidade de sono “certificada cientificamente”. Senão conseguirem ir para a cama ou adormecer no momento que planearam, estas pessoas trocam a tentativa de relaxar para dormir com os pensamentos sobre as consequências de se terem deitado vinte minutos mais tarde do que queriam.

Ou seja, há gente que não consegue dormir por estar demasiado preocupada por estar acordada. Se isto não é o exemplo perfeito da nossa capacidade de criar algo a partir do nada, nem que seja um problema, então não sei.

Há uma área na qual, em Portugal, existem apenas dois tipos de especialistas. Há os que estudaram nessa área e há o resto do país. Falo de comunicação. Deve ser rara a pessoa que, se se deparar com um tema relativo a comunicação, não se sinta mais que autorizada a dar o seu parecer vinculativo. 

Não é que apenas os "entendidos" possam opinar sobre o assunto, é o não reconhecimento de que talvez esses saibam, digamos, um pouco mais sobre.Por cá, se sabe falar, se sabe ler, se até consegue dizer que acha giro ou feio, então consegue facilmente decifrar e delinear estratégias e escolhas de comunicação. Esse dom que muita gente recebe à nascença, gera muita desvalorização da relevância que tem esta área. 

Aos que consideram que não é necessário ter nenhum conhecimento específico em comunicação, para a trabalhar e atingir os objetivos que se pretende, isto é, para a produzir com eficácia, aconselho que tomem atenção à guerra da Ucrânia para lá do óbvio. 

Este conflito armado despontou com mais violência em fevereiro, e à partida todos olhámos para ele e pensámos que seria tão equilibrado quanto colocar um crocodilo num galinheiro. Tal como referi, iniciou-se em fevereiro. Faltam cerca de 2 meses para completar um ano. 
Continua hoje a verificar-se que a Ucrânia resiste e insiste em não desistir da sua soberania.

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Vários fatores contribuem para que consigam continuar a resistir: o apoio que vão tendo, a sua coragem, talvez o excesso de confiança que os russos tiveram. Há um que talvez passe mais despercebido apesar de ser o que mais está à vista de todos. É precisamente a estratégia de comunicação. 

O contínuo esforço para se manterem nas "trends" , na comunicação social e nas redes, é assinalável. Os discursos do presidente ucraniano, carregados de soundbytes e  cuidadosamente adaptados para pressionar os gatilhos emocionais de cada audiência. 
A narrativa do underdog que se alimenta de patriotismo, esperança e coragem para fazer frente a um Golias. Tudo preparado e executado em grande velocidade porque a guerra não espera e a atenção da comunidade global muito menos. 

Esta tem sido a grande arma da Ucrânia, manter-nos atentos, preocupados e a torcer por eles, até mesmo na Rússia.  É graças a isso que o assunto não foi engavetado, como acontece com tantos outros conflitos armados. Gracas a esta aposta na presença mediática, a Ucrânia criou um motivo para os líderes mundiais não a esquecerem: apoiá-la dá boa imprensa, dá boa imagem, dá aprovação positiva da maioria dos eleitores. 
Quem apoiar mais a Ucrânia, quem receber aquele elogio de Zelensky, consegue umas boas golfadas de ar e ficar associado a valores quase unanimemente apreciados mundo fora. 

Em troca, a Ucrânia recebe apoio militar, aceleração de processos que de outra forma demorariam anos ( adesão à União Europeia, entrada na NATO...) e espinham os avanços desejados por Vladimir Putin. 

Este último utiliza uma abordagem de comunicativa diferente. Para além da disseminação de informação falsa, um clássico de guerras o qual existe sempre em ambos os lados de um conflito, a aposta passa pela modelação subtil da narrativa. 
A ideia não é minar o apoio à Ucrânia conquistando afeição à sua vontade de capturar o o que não lhe pertence, ou seja, não vamos ver Putin a fazer nenhum discurso emotivo para que o compreendamos. Com alguma atenção o que podemos verificar é que a ideia passa por equivalermos o Kremlin à NATO, à Casa Branca e à União Europeia. Sendo todos igualmente culpados, ninguém é culpado, nem mesmo um país que invadiu outro chamando-lhe "operação especial". 
Até que ponto, nas democracias liberais do ocidente, vão os eleitores apoiar um apoio do seu país a um conflito estrangeiro se considerarem que o invasor é tão desprezível quanto o invadido e os seus aliados?  

Dois países que obviamente estão muito atentos e um deles até mais que isso, ao desenrolar de todos estes processos, são a China e Taiwan. Todos os dias que a Ucrânia aguentar são suspiros de alívio em Taipé. A guerra por lá também se iniciou há algum tempo, sob forma cibernética e, claro, muito também no plano da comunicação. 
A ilha considerada capital da democracia digital, é um dos países mais bombardeados com informação falsa, oriunda da sua grande vizinha China. A ideia, mais uma vez, passa por corroer por dentro o que ainda não conseguem por fora. 
Uma das defesas mais caricatas que Taiwan levantou face a este problema foi a utilização de um software que deteta informação falsa e rapidamente ativa um processo de desenvolvimento de um "meme" que a ridiculariza ("Humor over Rumor"). Audrey Tang, ministra dos assuntos digitais, justificava a velocidade de resposta à informação falsa dizendo que basta um dia de atraso na reacção para que  a informação tóxica já tenha penetrado na memória de longa duração das pessoas. 
Em Taiwan não se desvaloriza o poder da comunicação.

São alguns breves exemplos que demonstram que descurar algo com tanto impacto na nossa vida, na nossa mente, como a comunicação é um erro de amador e uma demonstração de ignorância se propositado. Desde a pequena organização ao maior Estado. As palavras, a semiótica, o storytelling, são ainda, talvez mais que nunca, uma ferramenta poderosíssima.

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